Review Duplo: Accident Man 1 e 2

Dois filmes que ninguém viu baseados em uma HQ que ninguém conhece.

Scott Adkins pode ser considerado o Van Damme do século XXI. Não o Van Damme dos anos 80 e 90 que fazia filmes pra cinema que lhe rendiam milhões, mas o Van Damme do inicio dos anos 2000 que lançava uma bomba atrás da outra e resolveu ficar no mercado de home vídeo, onde o investimento era pouco e o retorno, apesar de não tão grande quanto nos cinemas, compensava. Curiosamente foi daí que Adkins saiu, desses filmecos do Van Damme, onde ele quase sempre fazia o capanga mais letal do vilão que era sempre o ultimo combate do filme (e a gente fingia que o Van Damme, com seus 3 tipos de chutes e 2 tipos de soco repetidos a exaustão ganharia do Scott Adkins e suas piruetas e chutes advindos do Tae Kwon Do e outras trocentas artes marciais que ele domina) além de acumular a função de dublê. A diferença entre Adkins e Van Damme é que os filmes do dublê britânico podem não ser uma perola cinematográfica mas suas capacidades fisicas, seus conhecimentos em várias artes marciais e seu background de dublê rende ótimas e frenéticas cenas de ação sem cortes e sempre vemos a cara de Adkins nas cenas perigosas.

Isto posto, não quer dizer que não tenhamos visto Adkins em filmes grandes! Ele participou de vários, sempre como capanga e dublê. Você pode vê-lo, por exemplo, apanhando da capa do Dr. Estranho no primeiro filme do mago supremo ou como o HORRENDO Deadpool de X-Men Origens: Wolverine, que originalmente não seria o Deadpool mas o Arma XI, só que resolveram refilmar os closes com o Ryan Reyolds, mas toda a luta ainda é feita por Adkins (vejam a cena da luta final e notem como os ombos do “Deadpool” mudam de largura quando em close e quando filmado distante).

Mas Adkins queria fazer um filme baseado em quadrinhos como protagonista, inclusive fazendo teste para o papel do morcegão em The Batman de Matt Reeves.

Gosto do Adkins mas é preciso admitir que ele não é um grande ator dramático, ele atua numa nota só. Mas eu não me incomodaria em ver ele como o morcegão numa série de TV, por exemplo, como Titans, onde meterem um idoso pra fazer Bruce Wayne (mas que é um ótimo ator dramático, sejamos justo). Porém não ganhar o papel não impediu Adkins de estrelar uma adaptação de uma HQ, e em 2018 era lançado Accident Man, baseado nos quadrinhos criados por Pat Mils (criador da lendária revista inglesa 2000 A.D.) e Tony Skinner lançado originalmente em 1993. E é dele que, obviamente, falarei primeiro.

ACCIDENT MAN

Antes de mais nada, uma pequena sinopse:

Mike Fallon é um assassino profissional que tem um estilo único e peculiar. Toda morte que lhe é encomendada ele faz parecer um acidente e, por isso, ganhou a alcunha de Accident Man. Fallon faz parte de um tipo de “coperativa” de assassinos profissionais comandadas pelo seu mentor, Big Ray. Todos os assassinatos são repassados por um senhor franzino chamado Milton e o nome dos contratantes nunca é revelado. Tudo corria bem na vida de mortes de Fallon até que um dia Milton o manda ir até um local receber um pagamento por um trabalho pessoalmente. Mesmo estranhando o fato, já que todo pagamento era feito via transação bancária, Fallon vai ao local e é atacado por outro assassino, o qual ele derrota facilmente. Tal fato já seria o suficiente pra deixar Fallon com a certeza de que algo muito errado etava acontecendo, mas o pior ainda estaria por vir. Fallon descobre que sua ex-namorada foi brutalmente assassinada por dois viciados em drogas que invadiram seu apartamento. O problema é que algumas coisas nessa história ficam muito mal contadas e Fallon vai descobrir que a tentiva de assassinato que sofreu e a morte de sua ex-namorada com a qual não falava há muito tempo estão estranhamente ligadas e isso o colocará em rota de colisão com seus colegas de profissão.

Accident Man não é um filme de ação inovador nem mesmo uma adaptação de quadrinhos impecável. Os quadrinhos de Accident Man, aliás, tem desenhos bem estranhos numa primeira olhada, mas você acaba entendendo o porque quando descobre que ele fazia parte de leva de HQs britânicas lançadas no inicio dos anos 90 onde desenhistas com artes peculiares, como Simon Bisley, desfilavam livremente. No entanto, Accident Man é um filme pra lá de divetido e, pra minha total surpresa, bastante fiel a HQ, só deixando o visual exagerado de lado, claro!

Inclusive até alguns golpes mostrados nos quadrinhos são passados fielmente pras coreografias de luta do filme.

A trama não é nenhuma Brastemp mas também não ofende a inteligência de quem está vendo. Mas o que realmente sustenta o filme são dois fatores: O elenco e as lutas!

De atores que não vem de área dos dublês nos temos Ray Stevenson, que você deve conhecer melhor como o ultimo Justiceiro do cinema e posteriormente como Volstagg em Thor, e David Paymer que talvez você não conheça de nome mas olhando pro rosto vai lembrar dele em um porrilhão de filmes. Já no campo dos artistas marciais e dublês, além de Scott Adkins temos Ray Park, o eterno Darth Maul, e Michael Jai White, o eterno Black Dynamite! E esses dois são responsáveis por alguns dos mais divertidos momentos do filmes além de uma das melhores cenas de luta junto a Scott Adkins. E todos os personagens são muito carismaticos, graças aos atores, claro!

Aliás, um dos melhores momentos do filme não é uma das muitas cenas de ação, mas a parte em que conhecemos o passado de Mike Fallon e como ele conheceu o velho Big Ray, que viria a treiná-lo. Digamos que a relação não começa da melhor maneira, graças ao misto de esperteza mediana e burrice extrema do jovem Fallon.

As lutas, claro, são um show a parte! Como eu já disse, a maioria do elenco é composto por dublês e artistas marciais então temos porradaria franca, piruetas e quedas sem cortes, já que não há a necessidade de substituir ninguém!

Destaque também pra Amy Johnston, que pecaminosamente esqueci de citar, e que protagoniza a luta final do filme. A mulher é tão linda quanto habilidosa na arte de descer o sarrafo!

Ah, e ela também foi a Android 18 naquele fan film que adaptava o futuro fodido do Trunks com o Gohan braceta.

Não há muito mais o que se falar do filme. Ele é divertido, tem bons momentos de humor e aquele clima das histórias em quadrinhos britânicas, cheia de humor sarcastico e meio sombrio. Vale uma conferida num dia preguiçoso.

NOTA: 7,5

No brasil o filme ganhou o HORRENDO título “O Carma de um Assassino” e pode ser visto na Amazon Prime Vídeo.

Accident Man: Hitman’s Holliday

Confesso que fui pego de surpresa quando vi o trailer dessa sequencia uma semana atrás. Eu não esperava por ela e acho que fui a unica pessoa em território brasileiro a ficar animado com a noticia. E, pra minha alegria, uma semana depois de ver o trailer, o filma já havia sido lançado. E, claro, antes de mais nada, vamos a sinopse:

Após os acontecimentos do primeiro filme, Mike Fallon precisou sair de Londres e agora vive em Malta, trabalhando por contra própria e tendo como única companhia a chinesa meio maluca, extremamente violenta e fatalmente habilidosa em vários tipos de Kung-Fu, Wong Siu-Ling, a quem Fallon paga pra que lhe ataque de surpresa de tempos em tempos como um tipo de treinamento. Mas o fato é que Fallon está com a consciência pesada por ter se voltando contra seus companheiros na Inglaterra e praticamente paga Siu-Ling pra dar uma surra nele de vez em quando como forma de alto-punição mas fingindo que é treinamento.

As coisas estão pra mudar quando, acidentalmente, Fallon encontra o atrapalhado Finicky Fred, um de seus ex-companheiros dos tempos de Inglaterra, e ambos começam a trabalhar juntos. Agora Fallon não se sente mais sozinho e está um pouco mais animado com a vida. Os problemas começam quando alguém coloca a cabeça do filho de uma chefona da máfia maltesa a prêmio e um dos interessados quase mata o sujeito. Só que o método usado lembra muito o de Fallon. A mamãefiosa sequestra Fallon e Finicky achando que eles eram os responsáveis pela tentativa de assassinato de seu filho, mas após ser convencida de que não foram eles, a mulher faz uma proposta: Fallon teria que proteger o filhote da mamãefiosa de TODOS os assassinos que estivessem a sua procura e assim que o sujeito estivesse seguro de novo, ela soltaria Finicky. Se Fallon falhar, Finicky morre junto.

O obstaculo maio pro cumprimento desse acordo é que o tal filho é um IMBECIL de quase 40 anos que age como um adolescente tiktoker e que quer ser um astro pop da música mesmo cantando tão mal quanto a situação atual do Brasil. O sujeito é tão insuportável que em muitos momentos o próprio Fallon sente vontade de matá-lo e só não o faz porque lembra de Finicky. Agora ele vai ter que proteger essa mala sem alça enquanto luta com uma legião de assassinos ultra habilidosos que querem a cabeça do sujeito e os 9 milhões de euros que vem junto dela.

Ao contrário do primeiro filme, essa sequencia se desprende totalmente da HQ original e segue um caminho bem próprio. E assim como o primeiro, a trama aqui não é um primor. A base é a velha conhecida “dupla que se odeia mas precisa permanecer junta em uma situação perigosa” e ainda requenta a trama “assassinos fodões aparecendo um atrás do outro para combates corpo a corpo” do primeiro filme. O diferencial aqui é que o longa abraça completamente a galhofa e a comédia é muito mais escrachada nesse. Isso rende ótimos momentos, como a interação entre Fallon e Finicky, mas também rende momentos onde o humor pastelão passa do ponto e fica escatológico, mais especificamente em uma cena envolvendo laxantes, um balde e um relógio de pulso.

E essa pesadinha de mão tem outro agravante a meu ver: Dante Zuuzer, o filho da mamãefiosa! Interpretado pelo ator e comediante George Fouracres, o personagem deveria ser o tipico sujeito estridente e irritante. E, bem…ele é! Só que em dados momentos parece que o ator interpreta um idiota de uma maneira…idiota! Como eu posso explicar…? Acho que “caricato demais” é o termo que busco. Por sorte, ele é meio deixado de lado quando o bicho pega na reta final do filme. E aí sim, temos os personagens mais legais e o MELHOR DE TODOS!

Com o andar do filme, Fallon vai encontrado vários assassinos. Alguns ele conhece de idos tempos e outros ele conhece apenas a fama. Mas tem um em especial que é, sem sobre de dúvida, A MELHOR COISA DO FILME TODO! Não a toa o filme abre com a cena dele! E eu falo de Poco, o Palhaço Assassino!

O sujeito é um demente que se veste de palhaço e usa uma barra de ferro com um tijolo de cimento preso a ela como marreta. E como se isso já não fosse o bastante, ele tem uma doença congênita que mexe com seus sistema nervoso e o impede de sentir dor. E Fallon vai descobrir da pior maneira possível que é um tanto complicado derrubar alguém que não sente dor.

O mais impressionante pra mim foi o fato desse palhaço parecer DEMAIS um conhecido meu que também não é lá muito bom do juízo…

Ah, a Siu-Ling é outra que merece destaque! Imagine a personagem da Awqwafina em Shang-Chi só que porradeira e puta da vida o tempo todo! Basicamente é isso! Ela é MARAVILHOSA e a atriz Sarah Chang manda bem demais além de lutar pra CACILDA! Espero ouvir falar mais dela!

O final do filme foi meio esquisito pra mim de inicio. Eu esperava que fosse haver uma última grande cena de ação mas quando olhei o relógio e vi que faltavam uns 5 minutos pro filme acabar percebi que não ia acontecer e aquilo parecia segir pra uma queda vertiginosa no ritmo do filme. Mas eis que uma solução curta e grossa aparece e salva o final do filme, além de me arrancar gargalhadas de satisfação!

O filme é quase tão divertido quanto o primeiro, o único ponto realmente contra é o personagem do nerd incel que precisa ser protegido que, ao meu ver, o ator deu uma passada no ponto. Mas, pensando agora, eu não sei se isso foi uma falha ou foi algo genial, já que a intenção era fazê-lo mesmo odiável…

Enfim, tirando isso, o filme é mais um exemplar pra se ver num dia preguiçoso. As ótimas cenas de ação e a Siu-Ling e Poco, o Palhaço Assassino já fazem valer a pena.

Nota: 7,0

Aparentemente o filme ainda não está disponível em nenhuma plataforma de streaming, então é preciso ver pelas vias “altenativas”.