Review Demoniaco- Lendas do Universo DC: Etrigan

Jack Kirby era uma máquina.

Só assim pra explicar como o sujeito conseguiu trabalhar em tantos títulos de uma única vez entre 1971 e 1975 na DC. Além de Superman’s Pal Jimmy Olsen, O Povo da Eternidade, Senhor Milagre e Novos Deuses, títulos que compunham o seu Quarto Mundo, o sujeito ainda criou, desenhou e escreveu Kamandi e OMAC além de trabalhar em histórias curtas para títulos menores da editora. E, mesmo fazendo tudo isso, a DC um dia chegou pra ele e disse “Ei, Jack…e se você criasse um título de terror pra nós?”. Kirby, inicialmente, ficou meio relutante, pois não enxergava um título de terror, sendo que já havia trabalhando em alguns anos antes, dentro da proposta heroica da DC. Mesmo assim, ele aceitou o desafio e, após ouvir o editor da DC dizendo que queria algo “demoníaco”, eis que Kirby resolve criar um título chamado…O Demônio.

No entanto, Kirby admitia que o terror não era uma área onde se sentisse muito a vontade, mesmo assim nunca fugiu a um desafio. Para criar O Demônio, ao qual chamaria de Etrigan, revisitou tiras de O Príncipe Valente desenhadas por Harold Foster, criador do personagem,  em busca de uma imagem que havia ficado gravada em sua memória. Na tira, Valente usava uma pele de pato como máscara para assustar um de seus inimigos. E foi exatamente esse visual que Kirby utilizou em seu personagem. Aliás, o que pouca gente sabe é que Harold Foster baseou o desenho do Valente com a máscara de pele de ganso em um demônio que aparece no documentário sueco de 1922 chamado Häxan (ou The Witches, como ficou conhecido nos EUA) onde um demônio aparecia em uma cena de ritual de bruxaria.

Valente e a máscara de pele de pato. minha preocupação é: Onde ficou o fiofó desse pato na cara desse sujeito?

O demônio do documentário sueco Häxan.

Origem do título devidamente explicada, vamos a análise da série que a Panini publicou na integra, dividindo seus 16 números em dois volumes da série Lendas do Universo DC sob o título que ganhou no Brasil, Etrigan. A história começa mostrando a origem do personagem, que era um demônio que servia ao mago Merlin na luta contra Morgana Le Fey. Após o fim da guerra, Merlin aprisiona Etrigan em uma forma humana, que passa a vagar sobre a Terra como um imortal mas sem memória alguma de sua contraparte demoníaca.

Centenas de anos se passam e agora Jason Blood é um demonologista renomado com vários artefatos místicos em sua coleção pessoal. Certo dia, uma estranha figura vai até sua porta e revela que existem indícios de que o túmulo de Merlin foi descoberto e que, além de um simples túmulo, é também o local onde todos os segredos místicos do mago estão escondidos. O que Jason não sabe é que Morgana Le Fey está de volta e também quer encontrar o túmulo de Merlin. Tem inicio uma corrida para desvendar os segredos de Merlin e, no meio do caminho, Jason Blood vai descobrir o segredo mais sombrio que esconde dentro de si mesmo.

Apesar de estampar na capa “O Surpreendente Épico de Jack Kirby”, Etrigan está beeeeem longe de ser épico. Jack Kirby disse não ter lá muito domínio do gênero terror e isso acaba ficando bem claro durante a leitura, pois apesar de nenhuma história ser, de fato, ruim, elas patinam demais entre o bom, o mediano e o “ok”. As primeiras histórias são bem bacana e até os desenhos são Kirby em seu melhor, com grandes cenários, personagens com visuais bacanas e ação bem feita. Mas, no decorrer do título, vai ficando claro que Jack estava se esforçando pra criar boas tramas de terror mas  talvez estivesse sobrecarregado de trabalho ou mesmo com escassez de ideias a ponto de apelar pra uma versão de O Fantasma da Opera que, pra mim, é a história mais chatinha e arrastada de toda a série. E é justamente ela que liga o volume 1 ao volume 2 da Panini, o que é bem arriscado, pois deixar a história mais chata como elo de ligação entre volumes pode ser um fator contribuinte pra que muita gente não volte.

Bem, eu voltei. E no segundo volume vamos de O Fantasma da Opera pra Frankenstein, só que em uma história mais divertida e com um final pra lá de triste. A Pedra Filosofal também faz sua aparição na trama de uma maneira meio…esquisita . No entanto, assim como todos os títulos de Kirby na DC, Etrigan teve vida curta e chega a um fim meio abrupto na edição 16, com muitas pontas soltas que viriam a ser explorados apenas anos mais tarde por outros roteiristas e desenhistas.

Aqui e abaixo, artes aleatórias da HQ só pra mostrar que se a história não estava tão boa, a arte do Kirby continuava foda.

Quanto as ediçõs da Panini, são o padrão de Lendas do Universo DC. O Omnibus de Etrigan dividido em duas edições em capa cartonada, papel off set e de extras, apenas uma página a lápis de Kirby no volume 1 e 6 no volume 2. Mas não tem erros de impressão e…bem…provavelmente tenha erros de digitação sim, afinal é a Panini e isso já virou praxe.

Etrigan não é o melhor trabalho autoral de Kirby na DC mas também não creio que seja o pior. Quer dizer, eu não li Kamandi, que é simplesmente um rip off confesso de O Planeta dos Macacos, nem  OMAC, que espero que a Panini venha a publicar um dia. Mas dentre os que li é, sim, o mais fraquinho e que mais demorei a terminar de ler. Tem personagens que perduram até hoje na mitologia da DC, como Klarion, o menino bruxo, a versão Kirbyniana de Morgana Le Fey, e o próprio Jason Blood/Etrigan, mas não tem nenhuma história que seja realmente memorável, como em Novos Deuses, por exemplo.

Se eu indico? Olha, se você é fã do Kirby e quer ter tudo que o cara fez…não vai ser minha opinião que vai te impedir, tenho certeza! Mas se você tem gostado do título do Quarto Mundo, pode ser que o título agrade. Pegue em uma promoção na Amazon, pague barato, pois o único arrependimento real que tenho com esse título é ter pago o preço de capa  de R$29,90 no vol.01 e R$27,90 no vol.02. É uma leitura que vai exigir paciência em alguns momentos mas, no geral, não ofende. Mediano é a palavra aqui.

Nota: 6,5