Resident Evil: Bem-Vindo A Raccoon City.

Ou “Resident Evil: Já tava bom. Diz que ia mudar ainda para melhorar. Já não tava bom. Tava meio ruim também. Tava ruim. Agora parece que piorou!”

Quando o primeiro Resident Evil estreou em 2002, apesar de não ter praticamente nada a ver com o enredo dos jogos, incluindo novos e exclusivos personagens e uma protagonista que tinha o poder de ser a mulher do diretor, eu relevei e achei OK. Mas aí vieram as sequências. Cinco, no total, e cada uma pior que a outra, com direito a personagens dos jogos fazendo figuração e caracterizados mal e porcamente pra dar espaço pra overpower Alice brilhar nesse palco feito de lixo. FINALMENTE essa série, idealizada por Paul W. S. Anderson, que é um Uwe Boll mais caro, chegou ao seu nojento final.

Mas o estúdio queria continuar com a franquia, e dessa vez colocou no comando da bagaça o diretor e roteirista Johannes Roberts, responsável por um porrilhão de filme de terror xexelento. Porém, Johannes estava ciente do desagrado que as liberdades artísticas de Paul W.S. Anderson em prol do estrelato de sua esposa causou nos fãs. Assim, ele assumiu o compromisso de ser mais fiel ao jogos em respeito a esses mesmos fãs. Como ele fez isso? Unindo as tramas de Resident Evil 1 e 2 num só filme, escolhendo um elenco tão diferente de suas contrapartes em polígonos tanto em visual quanto em atitude ao ponto da gente ter que esperar eles falarem os próprios nomes em voz alta pra gente saber quem é, e colocando cenas tiradas diretamente dos jogos mas colocado em contexto dentro do fiapo do roteiro escrito por ele. E assim nasceu Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City.

Fui assistir ao filme esperando que ele fosse horrendo, pois o trailer com todo mundo parecendo ter fugido de um concurso de cosplayers, já havia me desagradado. Porém, devo dizer que os minutos inciais até que vão bem, pelo menos em comparação com a tragédia que eu esperava. Não sou profundo conhecedor de toda a saga de jogos, mas conheço o básico. Não sei se tem uma história da Claire e do Chris Redfield morando em um orfanato da Umbrella quando crianças, mas tenho quase certeza de que não tem uma história de amizade entre a pequena Claire e Lisa Trevor, uma das cobaias da Umbrella em seus primeiros testes com agentes virais. Esse começo de filme no orfanato pareceu uma desculpa pra copiar coisas como O Orfanato e O Sexto Sentido, e essa parte eu achei bem ruinzinha. O inicio a que me refiro é o que vem depois, com Claire voltando a Raccoon City de carona com um caminhoneiro, que é o caminhoneiro da introdução de Resident Evil 2, e que aqui anda com um doberman, que é referência aos dobermans de Resident Evil 1. A trama da Umbrella deixando Raccoon City sem explicação e as pessoas da cidade doente sem saber que ele havia jogado coisas na água com intuito de testar os efeitos do Vírus também é bacana e creio ser similar a trama do jogo original, só que aqui mostra a mutação lenta da população de pessoas normais passando por uma aparência que parece uma mistura de câncer avançado e demência até chegar a fase zumbi como a conhecemos. Porém, as coisas bacanas param por aí!

A partir daqui temos a introdução dos demais personagens. Começando com Leon S. Kennedy, que deixa de ser o policial novato e certinha que se vê em uma situação extrema em seu primeiro dia e precisa se virar sozinho pra sobreviver e se torna Leon S. Kennedy, o moleque com cara de Mosqueteiro latino que é filho de um peixe grande da corporação policial e só ganhou um emprego na policia de Raccoon City justamente por isso, pois é desastrado pra porra e acabou dando um tiro no rabo de um colega de treinamento ainda na academia de policia. Passa o filme todo fazendo merda e sendo salvo pelos outros. Só dispara duas vezes O FILME INTEIRO e tem como objetivo ser o alívio cômico, mas até nisso falha miseravelmente.

Depois temos os membros da S.T.A.R.S, que…pera, por falar nisso, eu não lembro do nome S.T.A.R.S. ser citado em NENHUM momento do filme! Aparentemente eles só são membros da força policial de Raccoon City, colegas de trabalho de Leon. Mas, enfim…somos introduzidos a Albet Wesker, Jill Valentine, Brad Vickers, Brian Irons e Chris Redfield. Mas, como eu já disse, todo mundo precisa ou dizer seu nome em voz alta ou falar o nome do outro em voz alta porque não tem NADA que indique quem é quem já que TODO MUNDO É DIFERENTE PRA PORRA DE SUAS CONTRAPARTES DOS JOGOS! Ah, e um dos personagens mais queridos do Residente Evil 1, Barry Burton, foi sumariamente ignorado nesse filme e não aparece nem pra fazer cameo.

Ah, vale citar que o ator que faz o Brian Irons tá com mais cara de Leon que o Leon desse filme! Por mim, colocariam ele no lugar e eu fingiria nem notar que é um senhorzinho com uma pancinha e um bigodão!

A partir daí o filme vira um pacote de referencias visuais até bacanas, como a delegacia que é muito parecida com a dos jogos, e até um “momento puzzle” igual aos dos jogos, mas esse pacote tem como embrulho um roteiro arrastado que, graças ao excesso de personagens, não desenvolve NENHUM deles e não te dá tempo de simpatizar COM NINGUÉM! O personagem morreu? Você só dá de ombros, pois mal lembrava quem era. O filme tende a se focar bem mais em Claire Redfield, tanto que traz o nome da atriz Kaya Scodelario em destaque nos créditos e nos pôsteres, mas mesmo assim é um protagonismo raso demais. Ah, e Robbie Amell, irmão de Stephen Amell, até que foi uma boa escolha pro papel de Chris Redfield e é O ÚNICO que lembra o personagem dos jogos quando tá uniformizado, mas foi completamente desperdiçado no meio dessa ruma de gente e situações que se atropelam.

As cenas de ação são MUITO perebas! Tudo genérico e com cara de série de TV dos anos 90. Só tiro fofo, sem direito a ângulos de câmera ousados ou coreografias de combate. Tudo é básico e sem graça. Inclusive tem uma cena de tiroteiro no escuro com o Chris Redfield que já foi usado em TROCENTOS outros filme, como Equilibrium (“Esqueça Matrix” para os íntimos) e Batman Begins, por exemplo, só que aqui é beeeem mais sem graça. Ah, e zumbis que é bom mesmo, só depois de CINQUENTA FODENDO MINUTOS DE FILME!

Os efeitos especiais também são pra lá de fracos. Se não temos muito CG, o que temos é bem lamentável. Temos um pássaro, um doberman, um licker e o Tyrant E SÓ! O pássaro e o doberman passam de ano com um 6. Mas o Licker e o Tyrant estariam ÓTIMOS… se estívessemos em um filme de 1998. E o baixo orçamento fica meio evidente quando é preciso combater essas criaturas em CG. O combate com o licker é rapidinho, mas com o contra o Tyrant é ULTRA-VELOZ e BROXANTE PRA PORRA! O bicho, que deveria ser o vilão final que dá o maior trabalho pra galera, é derrotado com meia dúzia de tiros. Não tem perseguição, não tem desespero, não tem combate apoteótico. Ele aparece, faz careta, toma uns tiros e xau e benção. “PORRA, HELLBOLHA! DANDO SPOILER!” muita gente pode estar protestando. Gente, se vocês jogaram QUALQUER jogo da série e esperavam algo diferente, vocês tão muito esperançosos.

Neal McDonough tá no filme. Isso NUNCA é bom sinal…

Temos cena pós crédito? Temos cena pós crédito! E nela temos duas cagadas. A primeira é um personagem FINALMENTE assumindo o seu visual original dos jogos deixando um gancho pra uma sequencia que dificilmente vem, e a segunda é introduzir uma personagem que muita gente poderia querer ver no filme mas só aparece pra dizer o próprio nome porque, de novo, NÃO DÁ PRA SABER QUEM É SE NÃO DISSER O PRÓPRIO NOME EM VOZ ALTA!

Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City é melhor que todos os filmes estrelados pela Milla Jovovich juntos? MAS NÃO TENHA DÚVIDA! Porém, cheirar um peido ao invés de pisar na bosta continua sendo desagradável. E Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City é aquele peido que faz barulho, você fica olhando desconfiado, não sente o cheiro, relaxa achando que já passou mas, subitamente, a catinga começa a subir e você considera enterrar o responsável porque provavelmente ele está morto há dias e ainda não percebeu e está se decompondo por dentro. Perdão pela analogia nojenta, mas é só pra dar uma dimensão de como o filme progride em ruindade.

Não entendo porque complicam tanto uma história tão simples! Se o filme se focasse só nos personagens do primeiro jogo explorando a mansão e dessem o protagonismo pro Chris ou pra Jill, a chance de ter um bom resultado seria muito alta! Mas, nããããão! Hollywood e sua mania de querer misturar o maior número de elementos de uma franquia gigante em um filme de pouco mais de uma hora e meia! Agora é esperar a Capcom lançar outro filme em CG como medida de contenção de danos, como sempre fazia na fase da Jovovich…

Nota: 5,0 (pelo esforço de tentar nos fazer esquecer Milla Jovovich)