QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 4

Aquele quadrinho bonito de rosto…

Jae Lee é um artista de mão cheia! Suas páginas, quase sempre focado em cenas com os personagens de perfil, são verdadeiras obras de arte e suas páginas, que sempre evitam o uso do painel comum (os quadradinhos ou retângulos onde vão os desenhos, pra quem não é familiarizado com o termo) poderiam facilmente ser emolduradas e colocadas numa sala de estar.

Claro que me refiro ao Jae Lee pós anos 2000, pois antes disso o sujeito era adepto do massavéio puro, mais por imposição da Marvel que queria que todo mundo fosse Jim Lee, mas ainda mantinha um “que” de diferente em sua arte.

E Jae Lee foi a única e exclusiva razão de me fazer gastar R$15,00 no encadernado em capa dura Batman/Superman: Dois Mundos, uma ode a bagunça que foi os Novos 52 .

Publicado originalmente pela Panini em 2016, Batman/Superman: Dois Mundos tem 180 páginas dividida em duas hediondas histórias. Na primeira, desenhada por Jae Lee com pequenas inserções de Ben Oliver e Yildiray Cinar, vemos o primeiro encontro da dupla de heróis tendo que enfrentar uma mulher chamada Kaiyoa, que se diz arauto do caos e vem anunciar a chegada de Darkseid a terra. Ela, por razões que não lembro e nem importam, traz as versões dos heróis da Terra 2 para nossa realidade…ou leva os nossos heróis pra deles…sei lá…o importante é que ela o faz, o pau quebra, a Mulher-Maravilha entra na bagunça, Darkseid  não aparece e a história termina sem alterar quase nada na cronologia zoneada dos Novos 52.

Eu disse “quase” porque essa história não encaixa de jeito nenhum na Liga da Justiça escrita por Geoff Johns e desenhada por Jim Lee onde os heróis se encontram e fica claro que é pela primeira vez, e o Superman é um pau no cu arrombadaço entupido de arrogância juvenil enquanto o Batman parece o Mendigo das Trevas.

A segunda história que compõe o encadernado é tão ruim, mas tão ruim, mas TÃÃÃÃÃO RUIM, que chega a ser ofensiva! A trama escrita por Greg Pak e que parece ter sido roubada de um roteiro abandonado de algum desenho dos anos 80, mostra o Mestre dos Brinquedos, junto a outros jogadores ao redor do mundo, testando um jogo de realidade virtual onde podem controlar membros da Liga da Justiça, sendo que apenas Batman e Superman estão disponíveis na “versão beta”. Com o passar da PÉSSIMA trama, descobrimos que o Batman e o Superman controlados pelos jogadores são os verdadeiros e que tudo fazia parte de um plano arquitetado por Mongul.

Sim, essa cena é um spoiler de uma história de merda!

Como eu disse, a história é HORRÍVEL e só piora quando vemos o Greg Pak fazer o Batman MORRER com um rombo no meio do peito, claramente só pra fazer uma capa dramática e chamar a atenção pra essa revista de bosta em sua publicação nos EUA, e a coisa só piora quando ele ressurge como um super-zumbi e, ao final, volta a vida como se nada tivesse acontecido graças a nano-robôs reparadores, o que, pela lógica, mostraria que o Batman dos Novos 52 era uma forma de vida parcialmente artificial. Mas lógica nunca foi a força motriz dos Novos 52, não é mesmo!?

E o clichê de escrever “Game Over” ao fim da edição da “morte” do Batman ainda foi safadamente usado sem escrúpulos.

Quanto aos desenhos…vê-los foi como voltar aos anos 90 onde todo mundo emulava o traço do Jim Lee, e como o sujeito era um dos cabeças dos Novos 52, tinha uma galera fazendo exatamente isso. No caso, o desenhista em questão é Brett Booth, um sujeito que assim como Jim Lee, congelou nos anos 90. Após ver a bela arte de Jae Lee na história anterior, ver a arte de Booth é um baita banho de água gelada com muitas pedras de gelo (o que seria bom pra mim, mas nesse contexto quer dizer que é uma coisa ruim).

Mas como desgraça pouca é bobagem, a história ainda traz mais um aspecto bostolento dentro desse balde de diarreia. A história foi originalmente publica em formato widescreen e a Panini achou que seria uma ótima ideia publicar nesse mesmo formato e uma edição capa dura. Obviamente não preciso dizer que a experiência de ler esse troço com a edição virada foi uma merda tortuosa da primeira a ultima página. Parabéns a Panini pela ideia “jênial”.

 

A edição originalmente chegou as bancas pelo preço de R$32,90 e, de todo coração, eu sinto pena de quem pagou preço de capa por este semi-pedaço de lixo. E o “semi” só entra aqui porque considero a edição um péssimo exemplar enquanto história em quadrinhos mas um ótimo art book do Jae Lee. Meus 15 contos gastos foram todos com esse propósito.

Enfim, achou essa edição no stand do seu shopping? Olhe antes pra ver se não tem nada mais que valha a pena, nem que seja gastar tudo naquelas máquinas de pegar celular ou “pescar” ursinhos. Se você quiser pegar só pela arte do Jae Lee, ok, vale a pena! Se quiser pegar enquanto leitura para fins de entretenimento…vá ler uma bula de remédio. Garanto que a trama é bem melhor!

Nota: 4,0 (sendo 3 pontos dedicados a arte do Jae Lee)

PS; Procurando imagens pra ilustrar este post, eis que descubro que no  longínquo ano de 2016 o menino Godoka já havia despejado toda sua frustração sobre esta edição na qual ele pagou preço de capa, o que o deixou duplamente triste/revoltado, e você pode conferir toda sua angustia clicando AQUI!