QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 22

Apertem Os Cintos Que Os Deuses Sumiram.

No ano 2000, minha HQ favorita nas bancas era Marvel 2000 da editora Abril, linha de revistas iniciadas em 1997 que se dedicavam a pulicar runs de personagens que não tinham revistas próprias, como o Demolidor, Hulk (que teve o seu título solo na Abril cancelado justamente em 1997), Capitão América (também cancelado em 1997 graças a PORCARIA da saga Heróis Renascem), Homem de Ferro, Justiceiro, Motoqueiro Fantasma entre outros.

Fonte dos Quadrinhos: Guia da Imagem. Não, pera…

Eu não acompanhava essa linha de revistas ferrenhamente, pois muitos dos personagens que eram publicados lá não me interessavam. Marvel 2000 mudou isso graças ao Demolidor de Kevin Smith no arco Diabo da Guarda, o qual eu tinha sido levado a ler depois de ler A Queda de Murdock, publicado pela primeira vez em formato americano pela Abril um ano antes (e com as capas COMPLETAMENTE DESTOANTES do Roger Cruz). Capitão América do Mark Waid eu só achava legalzinho e o Hulk do Peter David era qualquer nota pra mim (apesar de ADORAR a arte do Adam Kubert). Foi só na terceira edição, essa com 130 páginas, o que já demonstrava que a Abril apostava no que estava por vir, que apareceu outra série que capturou minha atenção de imediato: Thor da dupla Dan Jurgens e John Romita Jr.


Guia da Fonte: Quadrinhos da Imagem. Não, pera de novo…

Confesso que o que me chamou a atenção nem foi o roteirista, já tinha lido o nome de Jurgens nos créditos das revistas do Superman elétrico, tanto no papel de roteirista quanto de desenhista e, convenhamos, Superman Elétrico não é o melhor referencial PRA NINGUÉM! O que me chamou a atenção mesmo foi a presença do cara que ajudou a consolidar de vez o Homem-Aranha como meu personagem favorito graças a sua arte única, sua narrativa fantástica e seus painéis GIGANTES nas cenas de ação. Claro que me refiro a John Romita Jr.

A serenidade no olhar de quem desenha duas páginas por dia, faz todo mundo quadrado e,ainda assim, fica FODA!

Infelizmente Marvel 2000 foi a única da série que não teve as 12 edições publicadas porque a Abril resolveu apostar na linha premium, que vinha em formato americano com uma média de 165 páginas por edição e que custava R$9,90 cada, o que pode parecer merreca hoje mas na época era um preço absurdo pra o jovem Amarinho (e pra muita gente que lia quadrinhos). Por sorte Diabo da Guarda foi publicado na integra em Marvel 2000, mas Thor acabou sendo “transferido” pra revista Premium do Homem-Aranha e nunca pude ver a conclusão do arco. Mas eis que,MUITOS ANOS DEPOIS, a Salvat lança um encadernado dedicado justamente a este arco da loira do Tcham nórdica e…eu continuei sem poder ver a conclusão pois ele contém apenas 7 das 12 edições que compõe o primeiro arco do run do Dan Jurgens. Mas vamos, lá! Vamos falar de Thor: Em Busca dos Deuses da Salvat.

Calma…respira…você consegue…Fonte da Imagem: Guia dos Quadrinhos! AEEEEEOOO, CARAIO!!!!

Após voltar ao nosso mundo com o fim daquela PORCARIA que foi Heróis Renascem, Thor acaba indo resolver uma treta numa escola, onde um sujeito mantém crianças e professores como reféns e diz que só libera todo mundo se falar com Thor pois, segundo afirma, ele é Heimdall, guardião da Ponte do Arco-Íris que leva a Asgard, e está aprisionado em um corpo humano graças a Loki. Thor chega, não duvida 100% porque…bem…ele já viu muita coisa louca, e resolve ir até Asgard com o auto-proclamado Heimdall pra comprovar se o que ele diz é verdade. Ao chegar na cidade eterna, Thor se depara com Asgard completamente em ruínas. O maluco admite que não é Heimdall bosta nenhuma, é só um doido da porra, e ambos voltam pra Terra sob uma forte onda de bad vibe.

De volta a nosso planetinha, Thor já fica sabendo por Jane Foster que os Vingadores tão trocando tapa com o Destruidor, o robozão místico MAL E PORCAMENTE APROVEITADO NO FILME DE 2011! O pau canta com ferocidade enquanto o paramédico Jake Olson tenta salvar uma mulher presa nas ferragens de um carro. Thor acaba invocando uma tempestade forte demais afim de deter o Destruidor e acaba ferindo Jake mortalmente pra, em seguida, ser abatido pelo Destruidor.

Os demais Vingadores atacam em fúria enquanto que em Hel, o submundo nórdico, Thor acaba se encontrado com uma jubilosa Hela, que estás mais feliz que pinto no lixo por ver que Thor se tornou um cadáver-defunto-falecido. Só que alegria de entidade do submundo nórdico dura pouco e um misterioso sujeito chamado Marnot chega botando o dedo na cara de Hela, dizendo pra ela baixar a bolinha, pois ele pode mais e diz que tem um acordo a oferecer a Thor. Marnot joga na cara do loirão que ele é um bosta prepotente e arrogante a tal ponto que nem notou que seus atos tomaram uma vida humana na Terra. Marnot diz que Thor poderá voltar ao mundo dos vivos, desde que viva em uma espécie de simbiose com Jake Olson, algo muito parecido a época do Dr. Donald Blake. Thor concorda, volta pra Terra, mete a porrada do Destruidor, teletransporta ele pro espaço e vai viver a vida de Jake Olson nas horas vagas além de procurar pistas do que diabos possa ter acontecido com Asgard. E é claro que nada disso vai ser fácil.

A trama criada por Dan Jurgens não é uma Brastemp. Esse repeteco do Thor tendo que esconder a identidade real sob a de um profissional de saúde tem um sabor requentado, as desventuras da vida pessoal de Jake Olson resultantes de sua nova dupla identidade tem um cheiro de “já vi isso no Homem-Aranha um PORRILHÃO DE VEZES, avisa ao Jurgens aí, Romitinha” e alguns acontecimentos na trama são claramente só pra promover crossovers com outros personagens Marvel sem ter relevância NENHUMA pra o arco principal, como é o caso das edições 3 e 4 que servem apenas pra promover um encontro como Namor (apesar de ter uma referencia aos ótimos Contos de Asgard).

Temos a introdução dos Deuses Negros, os quais tomaram Asgard e John Romita Jr. os deu um visual “Jack Kirbyano” pra lá de bacanas. Como eu já disse, a edição da Salvat se encerra no número 7 dos 12 que compõem esse arco inicial. Fui procurar o resto pra tentar ver a conclusão e acabei achando scans da Homem-Aranha Premium onde as cinco edições restantes foram publicadas e devo dizer que tem seus autos e baixos, Dan Jurgens CHAFURDA em clichês, a identidade de Marnot é um baita balde de água fria e não justifica muito o medo que Hela demonstrava ter dele mas o saldo final é divertido.

Ah, cabe citar que muita gente acaba por confundir esse arco com o do J. Michael Straczynski, e de fato tem certas similaridades no plot central. A grande diferença é que o que Dan Jurgens só jogou como pistas falsas, Straczynski usou como fatos, como a questão dos Deuses estarem espalhados pelo nosso mundo só que presos em formas humanas. No entanto, o arco do Straczynski se sai muito melhor no todo.

Mas vamos falar do que realmente interessa nesse encadernado: a arte de John Romita Jr! Se tem um sujeito que sabe utilizar o conceito de “mitologia tecnológica” que Kirby criou pra Asgard, esse alguém é o Romitinha. Isso sem falar que as inspirações de Kirby em seu trabalho são notórias! E, velho…nos anos 90 o sujeito tava no auge de seu estilo “blocões super-poderosos” (denominação que deram pra sua arte e que ele adotou sempre que precisa explicá-la pra alguém). Cada edição traz pelo menos uma splash page gigantesca explodindo em dinamismo na sua cara pra você ficar parado por uns segundos admirando. Seu Thor é gigantesco fazendo jus a alcunha de deus asgardiano, seu destruidor é MAIOR AINDA, fazendo a sensação de ameaça real ser palpável, seus Deuses Negros são estilosos e ameaçadores, seu Odin tem um ar de onipotência mesmo preso e esse ar só aumenta depois que você o vê solto e o Papai Noel divino revela-se maior que o Thor, e seus combates são cheios de destruição em larga escala deixando tudo comum ar épico!

A arte do Romitinha casou tão bem com essa história, mas TÃO BEM, que na edição 9 o John Buscema…vejam, bem, eu estou falando do JOHN FODENDO BUSCEMA…substitui o Romitinha e toda a história fica com um ar tao genérico, tão “nhé”, que mesmo tendo revelações importantes você acaba lendo com uma cara meio blazer e torcendo pra acabar logo pro Romitinha voltar. E quando ele volta…negadinha…a coisa toma proporções ÉPICAS! Claro, pra quem gosta da arte do sujeito. Pra quem não curte vão ser só um monte de desenhos feios gradões.

A arte do Buscema obviamente está longe de ser ruim. Mas…
…mas essa história EXIGE Romitinha narte!

Enfim, Thor: Em Busca dos Deuses, é um arco que não tem o roteiro mais memorável do mundo, mas diverte. Em compensação tem uma das melhores representações do Thor na arte ÉPICA do Romitinha e vai encher os olhos e corações dos fãs. A única coisa que lamento é o fato da Salvat não ter o restante do arco em sua coleção pra fechar a história e me dar a oportunidade de comprar nos encalhes do stand do shopping por 20 contos, como foi o caso dessa edição. Uma pena.

Nota: 7,5

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