QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 19

A saga do Quarteto Fantástico continua. E as presepadas do Stan Lee também…

O encadernado que figura neste post é Quarteto Fantástico: O Dia do Juízo Final, sequencia direta de Quarteto Fantástico: A Vinda de Galactus que falei na parte 18 (e você pode ler essa e as demais partes dessa série de posts clicando AQUI).

Fonte da Imagem: Guia dos Quadrinhos

A história que abre o encadernado introduz o Pantera Negra em sua primeira aparição. O Quarteto é convidado a visitar a misteriosa Wakanda só pra descobrir que o que o Pantera queria era caçar um a um dos membros da família mais antiga da Marvel. No final é revelado que o Pantera não queria feri-los de faro, e que tudo não passou de um teste pra o monarca de Wakanda se mostrar digno do título de Pantera Negra. Em seguida (e após ter uma mudança de visual bizarra, rejuvenescendo uns 20 anos de uma história pra outra), T’Chala conta sua história e como seu pai e muitos outras pessoas da tribo de Wakanda foram mortos por Ulisses Klaw e seus homens que buscavam o valioso e pouco conhecido metal vibranium, capaz de absorver vibrações. Ainda criança, após ver seu pai e parte de sua tribo morta, T’chala usa uma das armas do próprio Klaw e destrói sua mão direita.

Mais adiante, Klaw volta para tentar obter sua vingança ( e o vibranium, claro) mas acaba derrotado pelo Pantera Negra com a ajuda do Quarteto. Como ultimo ato, se joga em sua máquina conversora de som se tornando o vilão Garra Sônica voltando a atazanar o Quarteto depois de duas edições, uma com uma história mostrando Johnny Storm e Wyatt Wingfoot tentando encontrar um jeito de libertar Os Inumanos pra que o Tocha possa finalmente atochar em Cristalys e encontrado um cavaleiro medieval com uma arma que pode ajudar mas, no final, só serviu pra encher linguiça, e uma edição do Coisa saindo no pau com o Surfista por ciumes da Alicia Masters em uma história bem divertida por ser 90% composta de super-sopapos.

Depois de derrotarem o Garra Sônica o encadernado entra em sua “saga principal”, com o Dr. Destino roubando o poder cósmico do Surfista Prateado e preferindo fazer um monte de besteira pra mostrar pra todo mundo que é fodão agora ao invés de simplesmente estalar os dedos e transformar o Quarteto em Farinha.

“Com o poder que tenho, eu poderia destruir todos vocês só soltando uma bufa! Mas, quer saber? Tô afim não. Vou é fazer pegadinhas com o exército. Fui.

Bem, vamos lá…o encadernado, de um modo geral, diverte. Os desenhos de Jack Kirby continuam sendo o ponto alto e parece que a cada edição o sujeito ia melhorando mais e mais. O problema, assim como no encadernado anterior…adivinhem. Sim, os roteiros do Stan Lee!

Como eu já falei no post sobre a edição anterior, quando Jack Kirby desenhava em cima do plot básico que o Stan Lee lhe passava, ele criava toda uma história e a contava através dos seus desenhos. Sem ler os balões é possível entender a trama tranquilamente. Só que aí vinha o senhor Stan Lee colocar os diálogos e jogava toda a trama imaginada por Kirby no lixo, sem dó nem piedade. Se em A Chegada de Galactus muitas vezes os desenhos e os textos não conversavam entre si, aqui isso fica completamente escancarado, já que temos momentos que chegam a ser constrangedores de tão óbvios que essa disparidade fica. Vou dar alguns exemplos a seguir.

1- Em uma parte da segunda história do encadernado o Pantera Negra e o Quarteto Fantástico estão enfrentando um gorila vermelho gigante criado por Ulysses Klaw (que ainda não havia se tornado o Garra Sônica) e o Tocha acaba sendo pego pelo bichão. Em desespero, o Tocha gera uma explosão de chamas e claramente desmaia pela dor e pelo esforço. Ben aproveita e mete um socão no gorilão feito de som que não apenas solta o Tocha mas explode com o impacto fazendo a onde de choque do som propagado jogar Ben e o, repito, JÁ DESMAIADO Johnny longe, sendo salvos de se chocarem contra o solo pelo campo de força da Mulher Invisivel. Mas Stan Lee deu atenção a este NADA PEQUENO DETALHE MAIS DO QUE CLARO NA ARTE DO KIRBY? PORRA NENHUMA! Ao invés disso, ele mantém Johnny falando obviedades o tempo todo pra, só na página seguinte, quando Reed pega o corpo de Johnny do chão dizer “Ele desmaiou!’. Eu me senti quase ofendido lendo isso. Dizem que Jack Kirby não costumava ver as HQs prontas por conta do volume de trabalho que tinha, mas se visse isso, tenho certeza de que teria ficado puto!

2- Durante a história onde o Garra Sônica invade o edificio Baxter, Johnny Storm e Wyat Wingfoot estão junto com o cão teleportador Dentinho, mascote dos Inumanos. Tentando voltar pra seu lar, que está isolado do mundo graças a uma redoma levantada pelo vilão Maximus no volume anterior, Dentinho fica se teleportando mas acaba caindo em vários mundos diferentes. Em uma cena o trio está em um planeta rochoso e Wyatt diz que precisam tentar adestrar e ganhar a confiança de Dentinho afim de fazê-lo obedecer as ordens da dupla. Nesse momento Wingfoot tenta fazer um carinho na cabeça de Dentinho mas recua a mão quando percebe a energia que surge das antenas do cachorrão quando esse está pra se teleportar, e é isso que ele faz, indo pra um lugar, talvez no mesmo planeta, mas que é cheio de estranhas árvores amarelas que parecem rochosas. Sim, Dentinho claramente se teleportou, mas segundo a leitura de Stan Lee, ele deu um choque em Wyatt quando ele tentou acaricia-lo e as tais árvores rochosas amarelas estavam ali o tempo todo, apesar de não aparecerem antes.

3-Na história onde o Dr. Destino convence o Surfista Prateado a entrar em seu castelo e finge ser bonzinho pra tentar roubar seus poderes, acontece a discrepância mais absurda. Dr. Destino projeta imagens do espaço em um telão que fazem o Surfista, que está preso na Terra graças a Galactus, ficar absorto amirando a vastidão cósmica enquanto os asseclas de Destino lhe vestem com um tipo de armadura tecnologica que om fará absorver os poderes do oscar prateado. Claramente, Destino ataca o Surfista pelas costas, mas na leitura pictórica TOSCA PRA UMA PORRA do Stan Lee, o Dr. Destino manda o Surfista se virar e ele o faz. Só que no desenho está mais do que claro que ele não se virou PORRA NENHUMA!

Bem, óbvio que existe uma caralhada de situações assim mas essas são as 3 que ficaram marcadas a ferro e fogo na minha memória. Ah, mas tem outra coisa que o Stan parecia estar fazendo com mais gosto nessa edição,sobretudo no arco do Dr. Destino com poderes cósmico, e essa coisa era a verborragia redundante e cheia de mambo jambo cientifico!

Sério, além de protelar desnecessariamente o seu plano de dominação mundial preferindo fazer centenas de demonstrações mequetrefes de poder pra intimidar os governos do mundo todo,o Dr.Destino está falando mais que vendedor de ervas medicinais em feira livre. E a parte mais desnecessária é que tudo que este corno enlatado faz ele precisa chamar de “cósmico” só porque agora tem o poder cósmico do Surfista Prateado. Se ele solta um peido, fala “Este foi meu peido cósmico!”, se arrota, fala “Este foi meu arroto cósmico!”, se vai fazer exame de toque, fala “Doutor, seja gentil com meu cúsmico! Digo…meu cu cósmico!” e por aí vai. Chato pra porra! É lendo coisas como essa que eu não entendo quem só lê comics e diz “Ain, eu não gosto de mangás e animes porque eles falam demais na hora de lutar!”. Velho…se andou lendo HQs direito?

Além de falar pra porra, Dr. Destino tem um momento Dragon Ball Z fazendo seus braços crescerem durante a batalha.

E por falar em falar demais, outro problema do Stan Lee é não conseguir deixar NENHUM personagem calado em cena, mesmo que ele não tenha nada relevante pra dizer. Sério, se tiver 6 personagens em cena, ele vai ter que inventar uma fala pra cada um, mesmo que um seja só um transeunte que nada tem a ver com a trama principal. Esse amontoado de falas colocados de forma tardia na história acaba gerando um amontoado de balões que, muitas vezes, acabam ficando numa ordem de leitura completamente esquisita e fora de ordem. Tem uma hora em que parece mais um jogo em que você precisa adivinhar quem está falando primeiro e quem está respondendo quem!

Outra coisa que Stan Lee inventa aqui (não lembro de ter visto em nenhuma outra história do encadernado anterior) só os personagens descrevendo coisas fora de cena. Por exemplo, em alguns momentos temos closes no rosto da Sue e ela dizendo coisas como “Vejam, o Dr. Destino está andando de patinete e fazendo malabares com 4 serras elétricas ao mesmo tempo!” só, pra uns 2 ou 3 painéis depois, mostra o Dr. Destino simplesmente parado, fazendo porra nenhuma.

Dos desenhos, como eu já disse, continuam sendo o ponto alto das histórias e melhoram a cada edição. Fato este que me fez lamentar não temos mais um encadernado do Quarteto, pois além de mostrar o destino do Surfista Prateado, que é esquecido ao fim do arco do Dr. Destino (que se fecha nessa edição, fiquem tranquilos), traz desenhos cada vez melhores do Kirby onde podemos notar de onde Bruce Timm tirou a inspiração para o seu traço e ainda uma das história que eu adoraria ler que é a aparição de Blastarr, pois sempre que um grandalhão aparece nas histórias desenhadas pelo Kirby, tenha certeza que o pau vai quebrar com estilo.

Vejam essas imagens do Triton na edição 62 e diga se não tem cheirinho de Bruce Timm.

Bem, assim como a edição anterior, essa também me divertiu mas muitas das presepadas de Stan Lee acabaram me cansando. Se recomendo? Sim, claro, sobretudo pela arte do Kirby. Mas não é uma edição que pegarei pra reler nem tão cedo (pra ver os desenhos, sim, sei que vou sempre dar uma olhada).

Nota: 7,0 (apesar de começar melhor que A Chegada De Galactus, o arco do Dr. Destino ficou chaaaatinho…)

Nota para a arte do Rei: 12