QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 13

Esse vai ser um pouquinho diferente…

Um fato sobre mim, enquanto leitor de quadrinhos, é que nunca fui um grande fã de Conan. Quando era pequeno, com uns 6 ou 7 anos, eu comprei duas edições do cimério em uma banca de feira na cidade onde morava, Santa Cruz do Capibaribe, ainda menor que Caruaru, acreditem ou não. As edições foram A Espada Selvagem de Conan N°20 e A Espada Selvagem de Conan em Cores N°07.

Na época eu era viciado em Turma da Mônica e Urtigão da Disney, e obviamente, fiquei chocadíssimo com o nível de violência contido nessas duas HQs. De A Espada Selvagem de Conan N°20 ficou em minha memória justamente a cena final da história que estampa a capa, A Maldição do Monolito, onde Conan jogava um tipo de sacerdote dentro da gosma viva que descia por ele e derretia o sujeito até os ossos. Já em A Espada Selvagem de Conan em Cores, que trazia apenas uma história, A Rainha Feiticeira de Acheron, MUITAS cenas ficaram gravadas em minha memória, começando pela primeira página que já trazia a foto da tal feiticeira com sangue escorrendo pela boca e segurando um coração escorrendo sangue, além da cena onde encontram a cabeça de um soldado enfiada em uma lança pra simular que ele estava em pé e de vigília, além da cena final onde a feiticeira expele um tipo de inseto demoníaco de seu corpo de cadáver defunto falecido.

Nunca cheguei a ler as duas edições de fato por dois motivos. Primeiro que eu tinha medo, pois todas as imagens de ambas as revistas, sobretudo as de A Rainha Feiticeira de Acheron, além de perturbadoras por si só pra um molequinho, ainda me lembravam aquelas pinturas escrotas que estampavam os trens fantasmas de parques itinerantes que quem mora ou morou em cidade pequena conhece muito bem. Eu morria de medo porque o trem fantasma ficava exatamente do lado do ônibus da Monga e o parque ficava localizado em uma avenida que, do lado, tinha um terreno gigante que dava pra o nada. Sério, a noite você não enxergava horizonte, os defensores da Terra Plana podiam tirar uma foto do lugar a noite e defender que ali era a borda do planeta com tranquilidade.

“Mas, Hellbolha, porque diabos você comprou essas revistas então?” você pode estar se perguntando. Simples! Por que meu irmão e meus primos, mais velhos que eu, viviam falando do filme do Conan com o Schwarzenegger e eu nunca tinha visto o filme mas achei que seria legal ver o gibi. Errei feio, errei feio, errei rude. Pois além da violência assustadora pro pequeno Hellbolhinha, tinha o segundo motivo que nunca me deu ânimo pra ler A Espada Selvagem de Conan N°20: O excesso de texto!

Olhem essas duas páginas acima. Pra um moleque acostumado as histórias curtas e simples da Turma da Mônica onde se falava muito pouco, essas  páginas onde os personagens não calavam a boca por um quadrinho sequer e falavam termos que eu nem fazia ideia do que queriam dizer, eram um saco! E TODAS as histórias escritas pelo Roy Thomas eram assim! As histórias tinham um andamento extremamente lento pela textualidade excessiva que fazia as 60 páginas de uma revista do Conan se tornarem 180. E, depois de crescido, essa sensação não mudou e foi isso que me afastou de Conan até uns anos atrás. Lembro, inclusive, de passar em uma barraquinha na feira daqui de Caruaru onde um senhor estava vendendo um monte de Espada Selvagem de Conan a R$2,00 cada e eu ignorei. Hoje me arrependo fortemente.

Mas essa mudança só ocorreu lá por 2005 ou 2006, quando apareceu na banca um pacote com duas revistas do Conan pela Mythos por R$4,00. Elas eram menores que as edições em formato europeu de A Espada Selvagem de Conan, eram em formato americano, e  a arte de Cary Nord, que eu conhecia de poucas histórias publicadas pela Marvel, estampava a capa. Já o roteiro era assinado por Kurt Bursiek, que tinha escrito um arco do Capitão América em Marvel 1999 da editora Abril que eu gostei muito, apesar de nunca ter lido o fim já que a revista mudou pro formato Premium e eu não tinha dinheiro pra comprar (na época R$9,90 era uma FORTUNA) e que anos depois em descobri que foi elogiadíssima e até ganhou prêmios. Comprei o pacotinho.

Nele vinham as edições N°00 e N°02 de Conan. A edição N°00 introduzia o personagem mostrando um vizir lendo os pergaminhos que contavam as histórias da juventude de um rei do passado para um príncipe. O tal rei do passado era, claro, Conan. Já a edição N°02 adaptava o clássico conto A Filha do Gigante de Gelo, já adaptada anteriormente por Roy Thomas e com arte de Barry Windsor-Smith. O grande diferencial das histórias escritas por Kurt Bursiek para as de Roy Thomas eram justamente a agilidade. Bursiek não entope as histórias de texto e deixa a BELÍSSIMA arte de Cary Nord contar a história. A arte de Nord, por sua vez, não apenas nos apresenta um Conan com um jeitão mais selvagem do que a versão clássica de John Buscema, que tinha uma pose um pouco mais polida, como recebe um charme a mais com a MARAVILHOSA colorização Dave Stewart.

Eu simplesmente IDOLATRO essa imagem!

E essa também!

“Tá, Hellbolha…você falou, falou e falou…mas não disse onde você comprou barato e nem disse quanto pagou! Não é esse o objetivo do post?” você deve estar protestando com o punho cerrado em riste, enfurecido(a) leitor(a). E foi há dois ou três anos atrás que olhando uma gondola com revistas de tricô em uma papelaria do bairro, me deparo com uma edição de Conan do Bursiek por…R$1,50. Obviamente levei, li e me apaixonei de novo. Em paralelo, a Mythos estava lançando encadernados com essa fase em capa dura por uma média de R$69,90. Virou um hábito todos os meses futucar essa gondola na tal papelaria e com essas futucadas, comprei quase metade da coleção.

Esta série de Conan durou 50 edições (51 se contarmos a edição zero) e após seu término a Dark Horse recomeçou a numeração e mudou o nome da revista para Conan: Ther Cimmerian, mas sem mexer na continuidade, uma espécie de segunda temporada. Essa segunda série durou 25 edições e a Mythos nunca a trouxe pro Brasil, devido as baixas vendas da primeira série. Mas a Mythos foi bastante digna e avisou os leitores que a publicação chegaria até o fim da primeira fase antes do cancelamento definitivo. E nessas gondolas que você encontra em padarias e papelarias, você pode encontrar da edição 38 até a 50, possivelmente o ponto em que a revista começou a ir mal nas bancas brasileiras.

Kurt Bursiek ficou a frente do roteiro até a edição 46, quando fechou o arco Nascido em Campo de Batalha ao lado do desenhista Greg Ruth (arco compilado em um encadernado mais tarde pela Mythos e do qual o Godoka já falou AQUI) e da 47 em seguinte o roteiro ficou a cargo de Timothy Truman e o desenhista Cary Nord, que seguiu ao lado de Bursiek por quase todo seu run, foi substituído por Tomás Giorello. Os roteiro de Truman fecha bem a série, mas não faz nada de excepcional, é ó mais uma aventura do Conan sem indicar o fim de nada, na verdade. A arte de Giorello não é ruim, o problema é que o sujeito usa planos simples e tem uma narrativa mais engessada, ao contrário de Nord que fazia páginas memoráveis, grandiosas e cheias de fúria. Já as cores, que tinham ficado a cargo de Richard Isanove (colorista de Wolverine Origens e Marvel 1609) da edição 37 em diante, acabaram sofrendo um tombo de qualidade gritante nas mãos da dupla J.D. Mattler e Tony Shasteen. Enquanto Dave Stewart e Richard Isanove faziam um trabalho excepcional em cima do lápis de Cary Nord, que não finalizava os desenhos o que deixava a cor sobressair ainda mais, Mattler e Shasteen usam cores comuns, escuras, chapadas e sem vida. Chega a ser lamentável, sobretudo quando na edição 50 você vê a arte de Giorello a lápis e imagina como ficaria linda nas cores de Stewart e Isanove. E se ele ousasse mais na narrativa também, claro…

Se fosse no traço de Nord, Conan entraria destruindo a porta e a jovem ali apontaria para o rei com uma mão gigante em primeiro plano e tudo seria contado em 3 painéis. Se fossem as cores de Stewart ou Isanove, a página transbordaria de vida. Mas a nova equipe artística entrega um trabalho medíocre.

Então fica a dica, da próxima vez que estiver passando por uma dessas gondolas de padaria ou papelaria (ou onde mais elas aparecerem), deem uma olhadinha. Além dessas edições você também pode se deparar com as edições de A Espada Selvagem de Conan que a Mythos também republicou. O mais legal é que esses encalhes começam e terminam justamente em arcos perfeitos, fechados, então dá pra ler tranquilo sem se preocupar tanto com o que aconteceu anteriormente. E por apenas R$1,50 fica melhor ainda.

Nota: 10