QUADRINHOS (BARATOS) QUE LI RECENTEMENTE: PARTE 11

Depois de muito sofrimento promovido pelo Arqueiro Verde dos Novs 52…

…vamos falar de coisa boa! O Black Friday veio na Amazon e, é claro, muita gente aproveitou as ofertas! Menos eu, que não pago mais de 30 contos em gibizinho (salvo RARÍSSIMAS exceções) e tudo que tinha em oferta eram gibis da Panini que custavam mais de 100 conto sindo por não menos que 50 conto. Mas quando começou o “Esquenta Black Friday” já tinham umas coisinhas pequenas com preços muito bons. Títulos que não despertam o interesse nem da metade do povo que só quer saber de comprar o último encadernado caro pra porra do Pipoca e Nanquim ou a nova edição de luxo-gold-master-plus-ultra da Mythos de algum título que ela já lançou numa “simples edição de luxo” antes ou o mais novo lançamento super-faturado da Panini, custando 4 vezes o valor que deveria. E foi aí que eu encontrei o volume 1 do mangá Witches de Daisuke Igarashi por apenas R$3,70! Comprei o presente da senhora Hellbolha (um livro lindíssimo da Darkside) e botei o mangázinho na cestinha junto. E, quer saber? Foi mágico!

Tá, “mágico” é exagero, mas o fato é que o mangá é surpreendentemente divertido! Tempos atrás eu falei da HQ Wytches da dupla Scott Snyder e Jock e tinha reclamado que era uma boa ideia desperdiçada em um roteiro de filmeco de monstro mequetrefe.  Em Witches de Daisuke Igarashi, a ideia é totalmente oposta. O autor foge do esteriótipo monstruoso e assustador das bruxas e segue uma linha mais “realista”, representado-as como adoradoras da natureza em completa comunhão com os espíritos da floresta e com os animais e sempre usando sua magia para proteger,ensinar e guiar. Claro que, assim como em qualquer meio, há quem use suas habilidades para o mal, mas o mangá faz questão de mostrar que a culpa é de um mal direcionamento e não do fato de ser uma bruxa.

Mas deixa eu dar um pequeno resumo dos 3 contos que compõem esse primeiro volume. O primeiro é Spindle ou Fuso em português, o maior conto do mangá, dividido em duas partes. Nele conhecemos uma garota que é apaixonada por um jovem mas seu amor não é correspondido. Um dia, após sofrer a ultima desilusão e tentar suicídio, a menina encontra uma velha adivinha a quem pergunta se um dia vai conseguir o que quer. A velha diz que não, mas a chama de pequena bruxa, ao que a jovem pergunta se vai, de fato, se tornar um bruxa um dia. A resposta não vem.

Anos mais tarde, a jovem se torna uma importante figura politica, mas nos bastidores ela age usando forças ocultas para alcançar seus objetivos. É quando uma garotinha é mandada de um vilarejo distante apenas com seu burrinho até a cidade comandada pela politica/bruxa e seus destinos se cruzarão em um momento decisivo.

O segundo conto mostra uma equipe de políticos tentado tomar terras indígenas a força. Isso não soa extremamente familiar? Pois bem, só que o pessoal do colarinho branco não contava com as habilidades de uma jovem xamã que fará de tudo para detê-los e, de quebra, vingar uma pessoa que lhe era muito querida.

O terceiro conto é curtinho e mostra a conversa entre dois padres, um idoso e um mais jovem, sendo que o idoso afirma que sua irmã era uma bruxa e sempre vem lhe visitar montada em um pequeno pássaro. Estará ele caducando?

As 3 histórias são muitíssimo agradáveis de se ler e a estética delas transita entre o belo e o assustador sem precisar apelar pra uma história clichê de monstros, como no caso do supracitado Wytches do Scott Snyder. As bruxas aqui, como já dito antes, são representadas como mulheres em comunhão com a natureza e os espíritos que a habitam, algo muito próximo do conceito da Wicca (se eu estiver falando merda, me perdoem e me corrijam nos comentários). E mesmo quando as bruxas pesam a mão, como no segundo conto onde a vingança de uma bruxa é mostrada, é sempre contra quem prega o mal. Nenhuma bruxa vai comer crianças ou matar animais nessas historias, suas funções primordiais sempre serão proteger e guardar. Claro que a questão do preconceito também está presente, como na parte em que a menininha com o burrinho é instruída a evitar falar sobre sua natureza as pessoas da cidade, pois muitas outras foram mortas simplesmente pelo medo e ignorância. E a vilã do primeiro contro não ajuda a classe também, né!?

A tinhosa é ruim…

O traço de Daisuke Igarashi é peculiar e maravilhoso ao mesmo tempo. Tremido e meio rabiscado, ele guarda um ar de desenho feito as pressas mas, o mesmo tempo, com um esmero tal que é quase um paradoxo. Lembra muito um tipo de animação que é chamada de “traço fritando”, onde as linhas dos personagens ficam tremendo o tempo todo como se cada frame fosse, na verdade, um esboço. Você pode ter uma ideia do que estou falando no curta Kid’s Story da coletânea Animatrix (cujo vídeo deixo abaixo) ou, mais reconhecivelmente pelo público em geral, no desenho Du, Dudu e Edu, onde a técnica é aplicada de uma maneira mais “limpa”.

 

Dos  3 contos, o meu favorito acabou se tornando o segundo, não apenas por ter um visual muito bonito e apresentar os espíritos da floresta com um conceito visual muito interessante mas por mostrar que a vingança as vezes cobra um valor muito alto e que os espíritos podem se deixar manipular pelo preço certo e, claro, pela mensagem mais contemporânea que nunca pra quem vive no Brasil atualmente.

Existe um segundo volume que eu não peguei AINDA, mas pretendo fazê-lo assim que a Amazon jogar aquele precinho camarada em cima. Espero que o nível se mantenha, porque esse foi um mangá que me capturou de um jeito que fazia tempo que um gibizinho japonês não conseguia.

Nota: 9,0