Q(B)QLR 32- FROSTBITE: Morte Gélida

♪♫ Você quer morrer na neveeee?♪♫

Antes de mais nada, deixa eu explicar o que diabos é o Q(B)QLR 32 no título. Não, não é um tipo de código fonte que vazou no editor de texto. É só a sigla pra “Quadrinhos (Baratos) Que Li Recentemente” e o 32 é o número de série do post que já tem outras 31 partes escritas. Decidi colocar a sigla porque alguém que não faça parte do grupo de 15 pessoas que ainda leem esses textos pode chegar e estranhar por ver a imagem do banner mas não o nome do quadrinho em questão. Devidamente explicado, vamos ao tema do post.

Mad Max sobre o gelo! Basicamente é assim que se pode descrever Frostbite: Morte Gélida sem medo de errar. Frostbite foi publicado pela DC em 2016 pelo selo Vertigo logo após a demissão de Shelly Bond, que tinha substituído Karen Berger, fundadora do selo, em 2012. E parece que depois da demissão de Shelly Bond a coisa foi ladeira abaixo e culminou no cancelamento do selo sendo substituído pelo atual Black Label. E podemos dizer que Frostbite meio que já dava pistas que os novos responsáveis pela Vertigo em 2016 não faziam ideia de como o selo funcionava. De histórias ousadas com narrativas e artes pouco usuais e tramas complexas com revelações de fazer o leitor parar olhando pra uma página por alguns segundos pra digerir o que estava vendo e lendo, somos jogados em uma trama furreca construida em cima de clichês e que não se envergonha disso. Muito pelo contrário! A trama parece se orgulhar de sua falta de originalidade. Mas eu já tô metendo o pau sem nem dar uma sinopse antes, né? Então toma aí:

Em um futuro não muito distante, um grupo de cientistas tenta frear o aquecimento global criando um mecanismo de resfriamento artificial. Porém, o projeto dá errado e joga o mundo numa nova era do gelo. 57 anos se passam e conhecemos Keaton, capitã de um grupo mercenário responsável por fazer transportes de cargas através do gelo em seu enorme caminhão. As coisas estão pra mudar na vida de Keaton quando um homem e sua filha a procuram para fazer uma travessia no gelo até a ilha de Alcatraz. A carga são eles próprios. Acontece que o sujeito é Henry Boham e a garote é sua filha, Victoria. Henry é cientista e Victoria é médica e ambos precisam chegar em segredo a Alcatraz,onde agora funciona uma instalação cientifica secreta, pois só eles podem produzir uma possível cura para uma nova doença que veio junto com a nova era glacial, a Geladura

A Geladura é um vírus que faz o corpo se congelar de dentro pra fora e enquanto não mata o seu hospedeiro, faz com que ele viva com dores terríveis, afinal gelo também queima. Obviamente que uma cura chamaria a atenção de gente gananciosa, e é justamente por isso que Henry e Victoria precisam viajar as escondidas, pois o magnata conhecido como Burns e que tem Geladura em estado avançado, quer não apenas ser curado como monopolizar e lucrar sobre as vendas da cura. Pra pegar a dupla, Burns envia seu capanga, Fuego, que está disposto ao que for preciso para capturá-los. Agora Keanton foi jogada no fogo cruzado e vai ter que andar em gelo fino pra tentar sobreviver.

Como deu pra notar, todos os clincês estão aí, né? O mundo pós apocaliptico desolado, o vírus que ferrou parte da humanidade, as pessoas que podem trazer a cura e precisam ser protegidas, o chefão maligno e temido por todos que quer pegar as pessoas que podem trazer a cura, o capanga malvadão que persegue os heróis durante a história inteira, a(o) protagnista reticente mas que percebe que existe um bem maior por trás de tudo que a fará (o fará) arriscar a vida, veículos gigantes, etc, etc, etc…

Aliás, Mad Max: Fury, filme lançado em 2015, ou seja, um ano antes do lançamento de Frostbite, é descaradamente “usado como referência”, com algumas cenas idênticas e com a Keaton fazendo as vezes da Imperatriz Furiosa. Eu ia dizer que só faltava ela ter a cabeça raspada e um braço faltando, mas até a questão do braço tem uma certa similaridade.

Mas é como eu sempre digo: todo clichê pode render algo bom, basta ser bem contado! E o roteirista Joshua Williamson até começa bem, mas vai se afundando nos clichês e a coisa vai, com o perdão do trocadilho, esfriando. A trama tinha potencial pra resultar em algo, se não inovador, mas pelo menos divertido. Só que os clichês vão tomando caminhos tão piegas que em certo ponto da trama você não está mais ligando pros personagens. Na verdade você até adivinha o que vai acontecer porque o roteiro vai escolhendo os caminhos mais facéis. E isso vindo de um título da Vertigo só torna a coisa toda mais triste.

Pra não dizer que não falei de flores, a arte de Jason Shawn Alexander é muito boa! Sua arte final escura e suja lembra uma cruza de Bill Sienkiewics, Jock e Alex Maleev. Os veículos gigantes que ele desenha são maravilhosos! Pena que a história só prometa que eles serão o foco mas os restrinja a meros coadjuvantes em cenas curtas. As cores de Luis NCT também acertam em cheio! Dão o tom certo a trama e casam com perfeição com a arte.

A edição da Panini é o tipico encadernado de capa cartonada, papel LWC, 148 páginas com o preço de capa de R$31,90. Como comprei na mesma gondola com 50% de desconto onde comprei Lua do Lobo, paguei só R$16,00. Me arrependo? Não. O que me levou a comprar Frostbite foi a mesma coisa que me levou a comprar Lua do Lobo, que é o fato de ser uma história fechada em um encadernado só. Só que no caso de Frostbite, fica claro que a intenção era continuar e deu errado. A história termina com um gancho e várias pontas soltas e em alguns lugares da internet você encontra constando como “em andamento”. Só que desde 2017, quando o número 6 foi lançado, nada mais saiu e é seguro dizer que nem vá. Até porque o selo Vertigo acabou…

Enfim, achei Frostbite: Morte Gélida fraco mas o conceito, a arte e as cores ajudaram a divertir. Recomendaria? Não. Quer dizer…só se fosse na qualidade de artbook. E só se estivesse muito barato! No mais, é…

NOTA: 6,0

PS: O título “Frostbite” se refere ao vírus descrito na HQ. Frostbite, no mundo real, significa algo como “Mordida Gelada/Gélida” em português e é o nome dado ao congelamento de partes do corpo sob temperatudas extremamente baixas, chegando a necrosar a região e levando a amputação das extremidades afetadas. Certamente você já ouviu falar de alpinistas que perderam dedos dos pés e das mãos por conta disso. Geladura é um dos termos usados no Brasil pra descrever o mesmo fenomeno (outro é “Úlcera de Frio”), logo a tradução do quadrinho está correta. Só que “Geladura” soa tão…sei lá…bobo! Eu deixaria Frostbite mesmo, pra fazer eco com o título original que escolheram manter na capa. Ou usaria “Congelamento” que é outro termo correto e soa menos propenso a virar piada de quinta-série…