Post inesperado – Cantando na Chuva

Estranhas coisas podem acontecer se você permitir

No meio dos filmes que assisti nos últimos anos, esse talvez se destaque.
Não por ser estranho em si, mas pelo fato de eu ter assistido por vontade própria, sem coerção e
consciente de meus atos, considerando como já vocalizei meu desgosto pelo gênero.

Nem foi como aquelas bombas que assistimos para o Tortura Cinematográfica Show, ou algo por pura morbicidade como sei lá, A Serbian Film.

E sabem de uma coisa? Realmente gostei do filme.

Cantando na Chuva foi o primeiro musical digamos, normal, que consegui ver por inteiro e realmente achei bom. Excelente na verdade.

A historia é a seguinte. Em meados dos anos 20, do século passado, não esses que estão chegando daqui dois anos, duas das maiores estrelas do mundo do cinema são Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen).

Lockwood ainda tem que constantemente se livrar dos avanços de Lina, que pensa que seu romance na tela se estende para fora dela.

Depois de fugir de fãs frenéticos, Lockwood encontra Kathy Selden (Debbie Reynolds), uma atriz “séria”, de teatro e o escambau.

Ela não fica impressionada com a cantada de Lockwood e dá um toco nele. Ambos se reencontram em uma festa, onde o proprietário da Monumental Studios demonstra para seus convidados uma novidade que ele, e todos ali, julgam ser passageira. Um filme falado.

Não é bem isso, mas é da mesma cena.

O sucesso do filme “O Tocador de Jazz” (um filme que é considerado atualmente tão ruim quanto Chernobil e a Peste Negra juntas) prova que os filmes falados vieram pra ficar. Agora Lockwood, Lina, e a industria, tem que se adaptarem ou sumirão.

Só que Lockwood é um canastrão e Lina apesar de um pouco mais talentosa tem a voz da Arlequina original americana. É como escutar um gato arranhando vidro. Irônico na verdade, já que Jean Hagen tinha na verdade uma ótima voz e era uma cantora muito boa.

O texto é muito bem escrito, com boas piadas e diálogos bem sacados, principalmente entre Gene Kelly e Debbie Reynolds (a mãe da Carrie Fisher). As conversas são quase o ponto alto do filme. Quase.
Devo admitir que curti muito as partes musicais. Quase encho esse post com videos na verdade.

Uma das minhas reclamações com musicais era essa estranheza das pessoas pararem o que estão fazendo e se juntarem à completos estranhos para cantar e dançar pelas ruas, todos sabendo os passos e tal e coisa. É preciso considerar que isso é meio que condição existencial do cenário e deixar passar.

Mas esse filme faz de uma forma onde é mais fácil a suspensão de descrença. Os personagens que fazem a cantoria já são artistas, normalmente cantando musicas que eles já conhecem e normalmente apenas esses personagens cantam, as pessoas ao redor até estranham isso.

Aproximadamente em uma hora de filme é quando passa uma das cenas mais clássicas, parodiadas e referenciadas do cinema: a famosa sequencia de Gene Kelly cantando na chuva.  Gene Kelly era um cara talentoso e estava fodidamente doente quando gravou essa cena. Por sinal, aquela historia que usaram leite misturado com a água para a chuva aparecer nas câmeras e tal é balela. O efeito foi conseguido com luz normalmente.

Mas “Cantando na Chuva”, que por sinal era uma canção que inspirou o filme, não sendo criada para ele, não é a unica sequencia memorável.

No entanto nem tudo é tão bom assim. Há a gigantesca, enorme e mamutesca sequencia com a musica Broadway Melody. Ela dura uns 10 minutos e praticamente não tem nada com o roteiro, é quase
como se fosse um enxerto de outro filme. “Beautiful Girl” também não é tão bom quanto “Singing in the Rain” ou “Good Morning” mas não chega a comprometer tanto.

Fora das telas a convivência entre o trio de protagonistas também não foi tranquila . Debbie não era uma dançarina, e teve que aprender rapidamente. Mas numa dessas, depois de sair chorando do set, após levar um esculacho de Kelly, ela se abrigou debaixo de um piano para chorar. Então foi vista por Fred Astaire que resolveu ensina-la com mais paciência. Porra, é como levar uma surra na rua e o Bruce Lee te oferecer umas aulas.

De luta. Mas podia ser de dança também.

E me lembrei repentinamente porque o pensamento de ver esse filme me ocorreu.

Gisoku no Moses é esse simpático video da fantasminha dançando ao som de “Moses Suposes”, cantado por Gene Kelly e Donald O’Connor.

Não creio que minha visão geral sobre esse genero tenha mudado muito, mas acho plenamento válido dar uma chance para Cantando na Chuva.

Você pode se surpreender.