O Regresso


Desta vez vai?
O filme é inspirado no livro de mesmo nome, The Revenant, se passa em 1823 e trata da historia de Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), um homem da montanha.
Cabe uma pequena explicação. Homem da Montanha (mountain man) é como eram chamados os sujeitos que eram especialistas em sobrevivencia, rastreamento, caça, calzone, essas coisas. Geralmente eram caras que moravam isolados, por uma razão ou outra e na verdade nem sempre moravam em montanhas. Mas invariavelmente eram durões. E tinham que ser ou não duravam muito. Então, quando você, ou o governo precisava de um fodão profissional, procuravam os mountain man.
Bem, Glass e seu filho, um mestiço de indio chamado Hawk, estavam trabalhando com um grupo de caçadores, em busca de peles para vender.
Nessa eles são atacados por indios da tribo e tem que fugir às pressas, de barco. A fuga não vai bem, pois, além de vários deles já terem sido mortos, os indios os estão seguindo, ocultos nas florestas na margem do rio Missouri, mas podem embosca-los logo. Então Glass sugere abandonar o barco, esconderem a preciosa carga e despistarem os indios à pé. O lider da expedição, o Capitão Andrew Henry concorda, e confia nele. Mas John Fitzgerald (Tom Hardy) um dos caçadores fica putaço, pois acredita que ir de barco seria melhor.
E é no caminho para o forte Kiowa que as coisas dão erradas para Glass e rapaz, como dão errado.
O filme é baseado na historia real de Hugh Glass, naturalmente com alguns detalhes alterados para o cinema. Mas as partes alteradas NÃO são as partes que parecem dificeis de acreditar.

Um desenho real de Glass na época que o filme se passa.
Para proteger as pessoas de sensibilidade delicada, vou deixar um espaço de spoiler, delimitado por imagens fofinhas.

“Olá. Estou aqui para te ajudar a pular spoilers. Não vou te devorar nem nem nada.”
Ok. … Começa que Glass, durante a fuga, é atacado e quase morto por um urso, mas acaba conseguindo matar o bicho. Com uma faca.
Mas ele sobrevive, meio morto na verdade, mas o bastante para que o capitão Henry ordene que ele seja levado numa maca improvisada. E ele vai indo, com ferimentos graves e o frio do caralho não ajudando nada.
Mas os indios ainda estão em perseguição deles, Fitzgerald joga a real. Glass é um fardo e os está atrasando. Mas Henry não consegue simplesmente abandona-lo ali, pra morrer pelos ferimentos, pelo frio, ou pior, ser apanhado pelos indios.
Então fica combinado o seguinte, Fitzgerald, Hawk e Bridger, um outro caçador, ficariam ali, para dar à Glass um enterro decente, quando ele morresse. Eles receberiam um bom adicional em dinheiro para se arriscarem assim.
As coisas dão errado Fitzgerald mata Hawk e convence Bridger à ir embora, enterrando Glass ainda vivo. E é o que fazem.
Felizmente (ou infelizmente) eles não enterram o sujeito muito fundo. Mas ainda vivo, Glass sai de sua cova improvisada e começa uma dolorosa e literalmente arrastada travessia em busca do forte e de vingança. E foi um longo caminho. Estamos falando de 320 quilometros. O cara se arrastou por essa distancia toda. E para não morrer de gangrena, ele deixou larvas comerem a sua carne apodrecida.
Porra.

“E eu estou aqui para almoçarmos juntos. Entenda como quiser.”
DiCaprio sabe escolher bem seus papéis, talvez sua busca incessante por um Oscar o leve a fazer isso, e Hugh Glass o levou a ser indicado novamente. É, na verdade, um personagem de poucas palavras (e não poderia ser diferente), mas é visceral. O bastante para lhe garantir o cobiçado premiozinho?

“O prêmio é meu! Meu precioso!!!”
Quem sabe?
O Regresso é uma historia de sobrevivencia e vingança e não é um filme comum, pelo menos para os padrões mais pasteurizados atuais. O diretor, Alejandro González Iñárritú, fez os atores passarem por uns perrengues para seguirem sua visão artistica. Toda a iluminação é natural, o que realmente realçou os belos cenários.
O problema é que eles só tinham algumas horas da luz certa por dia, o que lhes deixava pouco tempo para filmar e estendeu a produção em alguns meses. Num frio da porra.
O veredito é que se trata de um ótimo filme, mas definitivamente não é um filme para a família. E está indicado para uma caralhada de Oscars. Saber que é baseado em uma historia real gera dois sentimentos:
Um é a agonia de ver o que se passou com o cara e do lado oposto do espectro, a agonia de ver o quanto caimos como civilização se deixamos de produzir cascas grossas como Hugh Glass pra termos, sei lá, o Gariba.