O futuro sombrio e brilhante que se avizinha pros games

Elucubrações pensamentosas sobre essa bandalha que se apresenta.

Há algum tempo, bastante tempo na verdade, eu previ o futuro. Era setembro de 2001 e disse a um colega que teríamos uma enxurrada de jogos FPS. Afinal, a América estava entrando em guerra. Já haviam, mas na época eram os jogos ambientados na Segunda Guerra. Eu disse que iria mudar para árabes e terroristas.

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Dito e feito.

Algum tempo depois, ao ver o orçamento milionário de um jogo (não me recordo qual, Final Fantasy VIII talvez, numa época que me importava com lançamentos da Square) me veio outro pensamento, e falei pra esse meu amigo, que me preocupava com isso. O aumento da complexidade dos jogos demandava maiores equipes e maior tempo de produção, tudo isso significava que os jogos ficavam mais caros para produzir. Mesmo com  o aumento dos preços, viriam a ser necessárias maiores vendas para que o jogo desse retorno financeiro.

Olhando para trás, vejo como estava certo. Meus receios não eram infundados.

A situação das majors, as maiores produtoras, é no mínimo ruim, em diversos fatores. Todos conhecem a imensa cova coletiva onde a EA enterrou uma infinidade de franquias, muitas clássicas. Grandes mentes criativas da Capcom e Konami  debandando para produção independente.  Konami forçando a demissão do Kojima e saindo do mercado (portáteis são meus ovos). Sega se prostituindo por trocados e cancelando remakes. Ubisoft tendo que fazer um ou mais Assassins Creed por ano (ainda vende o bastante) para fechar as contas. E por ai vai.

A Valve também não está livre de criticas. Muito boa em manter o Steam como parte vital da indústria e principal vitrine dos indies. Não tão boa em fazer as continuações muito esperadas de suas próprias franquias.

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Falando nos indies, temos muitos jogos indies bons saindo e são a esperança de manter o mercado funcionando, mas pode não ser o bastante. E eles só resolvem parte do problema e na verdade tem seus próprios problemas. Um deles é justamente a falta de recursos. Mas claro, como antes, a criatividade vence onde os recursos não existem. Outra coisa é que, por maior que seja a produção dos indies, ou talvez em virtude dessa alta produção, há muitos jogos efêmeros, para cada Fez ou Broforce ou Shovel Knight há dúzias de outros títulos, que podem ser bons, mas dificilmente serão lembrados daqui uns anos.

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Particularmente triste é ver como as empresas grandes tratam os fãs. Muitas vezes, fãs apaixonados fazem remakes, normalmente para serem lançados gratuitamente, de jogos antigos. Com ênfase no “Antigos”. Eles usam seu tempo pessoal, recursos, para dar uma nova roupagem e até apresentar para um novo publico aquele jogo que foi tão bom e importante para eles, tempos atrás.

Ocasionalmente, tais fãs recebem até permissão velada ou até real para lançar o remake. E com mais frequência, são impedidos e ameaçados com processos depois de um tempo. O caso de Streets of Rage Remake pode ter sido um dos mais notórios.

Os caras entraram em contato com a Sega e tiveram permissão para fazer o jogo. Desde que não cobrassem por ele. Os sujeitos aceitaram, nem devia ser a intenção deles vender. Muito tempo (8 anos!) e trabalho depois o jogo estava pronto. Os caras fizeram do zero, sem usar nem uma linha de código dos originais, E quando eles anunciaram isso, a Sega entrou em contato com eles e mandou parar tudo.  Era tarde demais porem, o jogo já estava nos torrents da vida.

De boa, mandem a Sega às favas e procurem. É bom pra caralho.

De boa, mandem a Sega às favas e procurem. É bom pra caralho.

Algo semelhante ocorreu com o remake de Rock´n Roll Racing. A Blizzard, satisfeita em sugar as tetas de Warcraft e Starcraft, não dava a menor pelota para Rock´n Roll Racing, assim como outras de suas franquias. Bastou uns russos começarem a fazer um remake, que logo a Blizzard lembrou que possuía esse jogo e mandou hordas de Zergs  advogados pra cima dos russos, supostamente pelo uso da voz do narrador do jogo original, o Lary. Eles mudaram o nome do jogo para Motor Rock e lançaram.  E detalhe, a bondosa Valve tirou o jogo do Steam em poucos dias e os russos não viram um puto da grana das vendas no site. A Blizzard então voltou a ignorar Rock´n Roll Racing.

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E há outros exemplos, como o tratamento escroto da Square dado aos caras que estavam fazendo um remake (na verdade aconteceu duas vezes, com dois grupos diferentes de fãs) de Chrono Trigger. Um dos jogos era uma versão em HD, em 3D, Chrono Trigger Resurrection. O site dos caras chegava a ter 1 milhão de visitantes! A Square os ameaçou para desistirem e em seguida enterrou Crono e seus amigos no buraco mais profundo que conseguiu achar.

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Quer dizer, não é como se estivessem refazendo jogos novos, com menos de dez anos, ou mesmo que as empresas continuam a lançar continuações. Não. São franquias e IPs (intelectual Propeirtes, propriedades intelectuais) que as empresas não dão a mínima há anos, quando muito em alguma coletânea, ou na PSN, Live ou coisas do tipo.

É plenamente compreensível que as empresas queiram proteger suas IPs. Elas investiram dinheiro e tempo nas marcas. Entretanto, os casos acima, como outros parecidos, não são de marcas que estejam rendendo alguma lucratividade para a empresa. E não quer dizer que vão render para o cara que faz o remake ou continuação de, sei lá, Tobal n1. Houveram casos semelhantes onde obviamente a empresa estava com razão, como no caso do jogo Pokenet, afinal, é uma franquia que ainda está saindo. Ou, voltando pra Valve, que deixou em paz os caras que fizeram Black Mesa Source um remake do primeiro Half Life

As leis sobre copyright são vastas e intrincadas e não vou entrar nesses detalhes, mas as empresas tem maneiras de se proteger. Claro, a pirataria é prova que isso não funciona bem, mas pode apostar que, se os fãs tivessem o que querem, ou seja, remakes dos clássicos que amam, eles iriam vigiar para que a pirataria tivesse pelo menos algum controle.

Os bem sucedidos Kickstarters de Mighty No 9, Shantae e Bloodstained: Ritual of the Night e Star Citizem provam que há gente, e não é pouca, disposta a pagar por jogos, ou estilos de jogos, pelos quais as produtoras pouco se importam.

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E iniciativas como essas, dos produtores tentando fazer o que gostam e dos pequenos sujeitos, que fazem pensar que as coisas podem não ser tão ruins quanto parecem. Mesmo as produtoras grandes ainda tem lapsos da criatividade e liberdade que as tornaram grandes em primeiro lugar. A Nintendo e seu Splatoon, mesmo com suas falhas, ou Bravely Default da Square… no wait. É só publicado pela Square. É da Silicon Studio.

Parte da culpa desse estado de coisas esteja em boa parte com os jogadores. Afinal, eles compram, ano após ano, versões levemente diferentes do mesmo jogo que compraram no ano anterior, Assassin´s Creed, Call of Duty, Medal of Honor só pra citar os mais famosos. Isso certamente passa uma mensagem para as produtoras e é uma mensagem de que não é preciso arriscar e inovar para lucrar. Basta lançar sempre a mesma coisa.

Agora com licença que vou jogar Dynasty Warriors Xtreme Empires 8.

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