O Despertar das Tartarugas Ninja- O Filme

Enquanto o nerd tetudo se enfurece, eu me divirto!

Em 2017 a ultima série animada das Tartarugas Ninja havia chegado ao fim. Produzida em CG, com muito humor, trazendo um pouco do espirito da série animada original mas adicionando novos elementos, como cada tartaruga ter uma característica física própria pra identificá-la facilmente até se estivessem sem as faixas, uma April adolescente e interesse amoroso do Donatello e uma série de paródias e homenagens a estrelas dos filmes de artes marciais como Chuck Norris e Bruce Lee, a série teve cinco temporadas de sucesso.

Porém os jabutis porradeiros não ficaram longe da telinha por muito tempo. Em 2018 já estreava O Despertar das Tartarugas Ninja (Rise of the Teenage Mutant Ninja Turtles) que pegava toda a fidelidade que as séries de 2003 e 2012 pudesse ter com a série de 1987 ou mesmo com os quadrinhos originais (que eram beeem violentos pra virarem desenho pra molecada, por isso as tartarugas dos desenhos são bem humoradas e coloridas) e…CHUTAVA PRA BEEEEM LONGE!

Fato é que excetuando a série japonesa onde as tartarugas encontravam cristais misticos que lhes davam armaduras a la Shurato além de poderes especiais de se transformarem em criaturas humanoides verdes que pareciam bonecos made in china e podiam se unir e se tornarem uma única criatura humanoide branca que parecia o Angemon de Digimon com esteroides, as…pera…você NÃO CONHECE ESSE TROÇO! AH, MAS VAI CONHECER AGORA MESMO!

Nesse vídeo estão os dois OVAs produzidos para promover duas linhas de brinquedos japoneses dos personagens. O primeiro era pra promover as tartarugas humanoides bizarras, o segundo pra promover as tartarugas com armaduras. Eu já vi esses bonecos das armaduras e são bem bacanas..

Voltando…

Excetuando esses OVAs aí, O Despertar das Tartarugas Ninja (eu sei, esse título nacional é muito bizarro) é a produção animada dos quelônios do nijutsu mais fora da curva. É um tanto óbvio que a coisa toda foi pensada afim de atingir a molecada de hoje em dia que curte anime com lutas cheias de poderes sendo disparados a rodo a la Naruto e cartoon com humor escrachado a la Steven Universe (ou seja lá o que os jovens assistem hoje em dia no cartoon network). Lembro que em 2020 o primeiro episódio foi liberado gratuitamente pela Nickelodeon no YouTube e resolvi dar uma olhada. Aliás, tá ele aqui pr’ocês verem:

Mas essa música de abertura em português chega a ser agressiva de tão HORROROSA! Nada rima e esses “Suas carapaças” me dói na alma…

A qualidade da animação foi um ponto positivo desde o inicio. A ideia de dar características físicas únicas foi trazida da série de 2012, só que aqui a coisa ganhou uma proporção bem exagerada! Cada tartaruga ganhou marcas no corpo ou no casco como se fossem tatuagens, mas a mudança mais abrupta e que salta aos olhos é o Rafael que parece que fugiu dos live action produzidos pelo Michael Bay de tão gigante e contrastante com o resto do quarteto. É como se a pessoa responsável pelo character design quisesse passar a personalidade esquentada e brigona do personagem pras características físicas e meio que perdesse a noção de sutileza. Mas isso nem foi o que mais me incomodou. O que me incomodou mesmo foi que no meio do episódio, o soldados do vilão Baron Draxum (que é dublado pelo JOOOOOHN CENA no original) destroem as armas das tartarugas, menos a do Donatello, e elas passam a usar novas armas com poderes místicos. Leonardo passa das clássicas duas espadas pra uma única e massiva espada, Michelangelo passa dos clássicos nunchakus para uma espécie de chicote com uma bola na ponta (que me lembra demais aquele brinquedo que o Chaves tinha a versão pobre que consistia em encaixar uma lata num graveto com ambos presos por um barbante) e Rafael passa dos clássicos sai pra um par de tonfas. Não, os poderes místicos que vinham com as armas não me incomodaram! A mudança de armas sim! Você pode vestir o Wolverine de bailarina mas não tira as garras dele! Você pode transformar o Kenshin Himura numa lontra alienígena mas você não bota uma foice de lâmina invertida no lugar da Sakabatou! Você pode transplantar a cabeça do Brad Pitt pro Ednaldo Pereira mas não bota um abdômen trincado no lugar de sua lendária barriga! TUDO TEM LIMITE! E, sim, eu dei uma pelancada de nerd tetudo aqui, eu sei…

Isto posto, excetuando a mudança de armas, achei o episódio bacaninha! Adorei a clara homenagem ao Jack Kirby no visual dos soldados montados em cachorros do Baron Draxum, as cenas de ação estavam bem animadas e o humor era eficiente. No entanto, a série não me segurou pra além do episódio 1. Era outra proposta que não era pra mim, um quase quarentão. Mas aí, dia desses, vejo no YouTube o anuncio de um filme derivado da série. Resolvi dar uma olhada no trailer e, olha…pra mim não importa se a trama de qualquer longa animado for sobre uma bula de Luftal, se a animação é bonita e bem feita, eu tô dentro! E a animação desse trailer tava ESPETACULAR!

Embarquei de imediato! Mas antes de FINALMENTE falar do filme propriamente dito, vamos a uma pequena sinopse:

Em um futuro não muito distante, a raça conhecida como os Krang invadiu nossa dimensão com sua fortaleza tecno-biológica gigante, o terrível Technodrome, o que iniciou uma guerra que já dura anos. Na linha de frente da batalha da humanidade estão as já adultas tartarugas ninja. Para tentar virar a maré da guerra, que se mostrava perdida pra raça humana, Leonardo ordena que seu discípulo, o jovem Casey Jones, volte no tempo através de um portal aberto por Michelangelo (que agora é uma espécie de mago supremo) e pegue a chave capaz de abrir o portal entre nossa dimensão e a dimensão onde os Krang estão aprisionados, antes que o Clã do Pé o faça. Casey obedece mesmo vendo que aqueles eram os momentos finais de seus amigos de casco mas, ao chegar ao nosso tempo, se depara com um quarteto completamente imaturo e o pior de tudo, com um Leonardo completamente irresponsável. Graças a isso, o Clã do Pé põe as mãos na chave, os Krang invadem nossa dimensão e agora cabe ao grupo de heróis impedir que eles tragam o Technodrome pra nosso mundo e que a linha de tempo de Casey Jones se torne uma realidade.

Antes de mais nada, é preciso lembrar mais uma vez: NÃO ESPERE QUE NADA AQUI SEJA COMO VOCÊ CONHECE! Isso já fica claro no Casey Jones dando uma de Kyle Reese e com um visual e comportamento que mais lembram uma versão alternativa de um Robin, mas tem muitas outras coisas que podem incomodar os mais puristas, como fato do líder das Tartarugas não ser o Leonardo e, sim, o Rafael! E é muito estranho ver o Leonardo sendo o irresponsável que faz burrada o tempo todo e o Rafael ser o que puxa orelhas e usa a lógica ao invés de sair distribuindo sopapos. Porém, dentro desse contexto, isso serve pra mostrar o amadurecimento do Leonardo como futuro líder do grupo.

Ah, mas também não vá esperando uma obra cheia de inovações e inventividades! O filme é ENTUPIDO de clichês, nada é novidade e a coisa toda tem um ar de previsibilidade constante! Mas inovar não é o foco do filme, divertir é! E isso, ele consegue com louvor! Caso você esqueça o preciosismo sobre a franquia e abrace esse novo universo,claro.

As cenas de humor são bacanas, mas são as cenas de ação que comandam o espetáculo! As cenas de luta são frenéticas e com uma movimentação absurdamente bonita. Destaque pra batalha final nos céus de Nova York. Traçando alguns comparativos com anime, a primeira referência visual que vem a mente são as produções do Studio Trigger como Kill la Kill, Promare, BNA e Gurren Lagan. Aliás, em uma cena o Donatello manifesta uma broca de energia com seu bastão que é Gurren Lagan puro.

Já em termos de porradaria mesmo, eu não sou um fã de Naruto então não posso dizer quanto de referência temos aqui, mas com toda a certeza a porradaria “Dragon Ball Znesca” está mais que presente. Inclusive, quando Krang começa a usar seu corpo robótico no final do filme, além do Alien outro personagem que vem a mente de imediato é Freeza. Ou qualquer personagem porradeiro da franquia Dragon Ball que tenha um rabo…

Outro ponto muito bem trabalhado no filme é o drama. O conflito entre Rafael e Leonardo, aqui sob um ponto de vista inverso ao que normalmente é mostrado, dá uma nova perspectiva as coisas. Mas é o amor entre os 4 irmãos que dá vida aos melhores momentos do filme com situações deliciosamente piegas a la Cavaleiros do Zodíaco. E alguns momentos são realmente de cortar o coração de tão genuína que é a relação desses 4.

Essa cena do Michelangelo na reta final do filme me fez esquecer que ele era um ninja e que poderia jogar shurikens de cebolas nos meus olhos…snif…

Após terminar de ver o filme eu fui rever o primeiro episódio da série e o segundo também. E o filme é MUITO MAIOR e mais “sério” que a série que se escora quase completamente no humor. Porém eu lembrava de ter vistos clipes com umas lutas épicas no YouTube e não via onde aquilo se encaixava na série com esse tom pastelão dos primeiros episódios. Pesquisando, eu acabei descobrindo que a série tem episódios de 11 minutos em sua maioria mas tem alguns episódios especiais de 20 minutos que desenvolvem uma trama maior e interligada que chega ao ápice no fim da primeira e inicio da segunda temporada onde o time enfrenta um Destruidor MUUUUUITO diferente. A série de 2003 já tinha apresentado uma proposta de destruidor diferente , com a revelação de que o Destruidor na verdade era um Krang. Em O Despertar, existe um arco de Baron Draxum na liderança do Clã do Pé tentando juntar as partes da Armadura Negra. Essa armadura, quando usada, é capaz de dar poder incomensurável na mesma medida que corrompe quem a usa. Não sei exatamente que é o que acontece porque não vi a série, mas pelo que entendi o Destruidor é o espirito maligno que habita a armadura e se manifestará quando ela for completada. Dentro dessa trama mais linear espalhada pelos episódios da série, temos um tom mais dramático e com batalhas mais ferozes. Infelizmente diluído em meio a muitos episódios aleatórios focados no humor. Creio que se a série tivesse esse tom mais linear teria me agradado mais e talvez até fosse mais interessante pra um publico mais amplo.

Bem, fato é que o filme é uma sequencia direta da série e uma coisa que eu gostei no filme foi o fato de todas as tartarugas estarem com suas armas originais de volta. Dei uma pesquisada e vi que o Destruidor destrói as novas armas e as antigas voltam com os poderes misticos. Além disso, a mudança de visual do personagens, que agora trazem faixas pretas nos braços e nas pernas (e que eu acho mais bacana) também surge nessa fase da série representando um upgrade no poder do grupo.

O visual da série.
O visual do filme.

O Despertar das Tartarugas Ninja- O Filme não é uma obra prima que vai reverberar como referência no mundo da animação ou mesmo da mitologia das Tartarugas Ninja. É um filme com um enredo simplório cheio de “eu já vi isso antes umas MIL VEZES” mas é um arroz com feijão gostoso dentro de um prato muito bonito! O que me lembra uma coisa : ASSISTAM DUBLADO! Não que o original em inglês seja ruim, de jeito nenhum! Mas vendo dublado você pode apreciar 100% do maravilhoso trabalho de animação do longa que merece total atenção!

Enfim, vá de coração aberto e divirta-se!

NOTA: 8,5

PS: Na série é revelado que o Mestre Splinter era, na verdade, um astro do cinema de artes marciais no melhor estilo Bruce Lee até que um dia foi sequestrado por Baron Draxum para sua arena onde lutava com monstros mutantes e acabou sofrendo mutações também além de ter seu DNA usado pra criar as Tartarugas. Ou seja, ele meio que é mesmo pai biológico dos garotos. Mas nem era essa a curiosidade que eu queria falar. Lembra que eu falei que a animação lembra muito produções do Studio Trigger como Gurren Lagan? Então…olha essa “discreta” referência em uma cena de flasback do jovem Splinter: