Mortal Kombat Legends: Snow Blind
O que diabos está acontecendo a divisão de animação da Warner?
Desde 2020 a Warner vem lançado longas animados baseados nas franquias de lutas produzidas pela NetherRealm. Começaram com Mortal Kombat Legends: Scorpion’s Revenge, seguiram com Mortal Kombat Legends: Battle of the Realms em 2021 e no mesmo ano lançaram Injustice, adaptando os quadrinhos que contam a história ao redor do jogo de luta dos personagens da DC. E eu acho que Injustice pode ter influenciado negativamente a produção de Mortal Kombat Legends: Snow Blind, mas vou falar disso mai adiante.
Antes e mais nada, uma pequena sinopse do filme:
O mundo agora tem um novo tirano governando o globo com mão de ferro: Kano, o líder do Black Dragon! Nesse mundo devastado, um jovem chamado Kenshi quer se tornar o mais poderoso guerreiro enquanto um velho e cansado Kuai Liang deixou seu passado de guerreiro para trás após o violento fim de seu clã, o Lin Kuei e tudo que quer é uma vida pacifica, mesmo num mundo comandado pelo caos e violência perpetrado por Kano e seus asseclas.
Porém a maré do destino está para mudar e quando os caminhos de Kenshi e Kuai Liang se cruzarem, uma onda de sangretas batalhas irá se erguer no horizonte.
Quando escrevi minha resenha sobre Mortal Kombat Legends: Scorpion’s Revenge eu disse que a animação era um tantinho dura em alguns momentos mas que quando o personagem título, o Scorpion, ia pra porrada, os animadores caprichavam e isso nos rendeu algumas das melhores e mais brutais cenas de luta de qualquer mídia em que Mortal Kombat já tenha sido adaptado. Quando escrevi sobre Mortal Kombat: Battle of the Realms disse que a qualidade da animação agora estava bem travada e que só duas cenas de luta tinham uma qualidade acima da média mas nada perto do que foi feito no filme dedicado ao Scorpion. De positivo, só o visual criado pelos characters designers Steven Choi e Zak Plucinski que continuava o mesmo, com suas formas angulares e suas sombras chapadas. Visual esse que também foi usado em Injustice e que ficou bem legal, mas que sofria da mesma animação dura de Battle of the Relms. E então veio Mortal Kombat Legends: Snow Blind. E, meus amigos e minhas amigas…esse filme tem MUITOS problemas!
Vou começar falando da trama! Eu não acompanhei todos os jogos da série Mortal Kombat. Do PS2, por exemplo, eu só joguei Shaolin Monks com meu sobrinho quando ele era pequeno (ele ficava me esperando chegar do trabalho pra gente jogar, pois era o ponto alto do dia dele e, honestamente, do meu) e talvez eu tenha jogando um pouco de Armageddon, mas eu não lembro. Fato é que nessa fase do PS2 pipocaram MUITOS personagens novos e eu não conheço metade até hoje. Um deles foi o Kenshi e me corrijam se eu estiver errado fãs de carteirinha, mas eu não vejo ele como sendo um favorito pra estrelar um filme da franquia! PRINCIPALMENTE EM UM FILME CHAMADO SNOW BLIND QUE TEM O SUB-ZERO!
A história, aliás, é um amontoado de clichês de filmes de ação e artes marciais jogados num liquidificador sem tampa e ligado na potência máxima. Uma bagunça da porra em que elementos voam pra todo lado e o que sobra pra colocar no copo é aquele troço viscoso e esquisito do fundo cheio de pedaços de coisas que você não tem certeza ser quer descobrir o que é e que gosto tem. E o filme é aquele seu amigo sacana que empurra o copo na sua boca e resulta em uma brincadeira nojenta e sem graça.
Temos de tudo que não queríamos ou esperavá-mos ver em um filme de Mortal Kombat. Começando pelo clichê do ex-cara fodão que agora é um velho que vive isolado e não quer treta com ninguém, inclusive se humilhando pra não ter que entrar em confusão pra que ninguém desconfie de seu passado e de sua verdadeira identidade. Logan, Rambo, Nobody e o recente Lou são exemplos.
Depois temos o clichê do jovem que almeja ser um bom guerreiro, falha, conhece um velho misterioso que acaba por ensiná-lo novas e poderosas técnicas. Karatê Kid e 48 filmes do Van Damme são exemplos.
Temos ainda o clichê do sujeito que perde a visão e precisa aprender a se habituar a sua nova condição pra continuar sendo um guerreiro e, pra isso, acaba recebendo a ajuda de um velho misterioso que acaba por ensiná-lo como. Fúria Cega e Demolidor são exemplos.
Isso sem falar em muitas cenas do treinamento do Kenshi pelas mão do Sub-Velho que são referências a filmes de porradaria clássicos. Temos a cena do côco de Kickboxer, só que aqui trocando os côcos por melâncias, e temos até a cena da galinha de Rocky: Um Lutador!
Mas a salada não acaba aí! Porque o mundo comandado por Kano, por alguma razão, regrediu ao ponto de ser quase medieval. Na verdade, tudo é EXATAMENTE IGUAL A MAD MAX 2 e 3! Desde o visual dos capangas do Kano até seus veículos. Essa mistureba poderia até render um bom produto final caso fosse bem trabalhado por alguém que soubesse lídar com clichês. Mas o filme é TEDIOSO e sua 1:21hr passam se arrastando agoniantemente. Dos 3, esse é o filme com menos cara de Mortal Kombat até agora!
Outra coisa que me incomdou DEMAIS foi o fato do KANO ser o vilão principal! O KANO! Pelo amor de Deus! E o sujeito ainda tem o SHANG TSUNG COMO MORDOMO! Ah, não fode! Isso tem uma explicação no fim do filme que é tirada do final de Mortal Kombat 11 mas convence tanto quanto eu usando uma peruca branca do século XVIII (dezoito, caso você não saiba ler números romanos) e dizendo “O que? Meu cabelo? É 100% natural!”.
Agora vamos falar dos aspectos técnicos!
Voltando ao que eu disse lá em cima, creio que Injustice pode ter influenciado negativamente esse longa animado. Digo isso porqe esse é o único dos três filmes animados da franquia MK que não tem o visual criado por Steven Choi e Zak Plucinski, muito provavelmente porque eles estavam ocupados com Injustice. Quer dizer, Steven Choi até é creditado, mas em meio a outros CINCO nomes, o que deve ter diluído a sua arte a ponto de ficar tão diferente no produto final. MKL: Snow Blind tem um visual de animação infanto-juvenil genérica com um unico diferencial interessante, que é tornar visível as linhas de esboço dos desenhos a lápis em breves momentos. O problema é que a qualidade da animação é tão RUIM que esse detalhe não faz lá muita diferença! É como colocar bancos de carro de corrida num Fiat 147 e esperar que ninguém note que é um Fiat 147!
Já sobre essa qualidade de animação tão ruim…não tenho muito o que dizer. É RUIM! PONTO! Ela é dura, as lutas são mal animadas e com coreografias pouquissímo inspiradas. Em Mortal Kombat Legends: Scorpion’s Revenge, tinhamos cenas em que a câmera acompanhava o Scorpion correndo no meio da matança. Aqui não temos isso! O que temos é uma cena onde a câmera gira ao redor do cenário, só que os animadores ESQUECERAM DE GIRAR OS PERSONAGENS TAMBÉM, então fica parecendo que eles estão lutando em cima de uma daquelas plataformas giratória de exposição de carros.
Pra exemplificar bem a horrorosidade dessa animação, eu faço QUESTÃO de fazer por aqui o clip de uma cena onde o vento bate num milharal e os animadores simplesmente ESTICARAM DOIS JPEGS! Que coisa HEDIONDA!
Pra não dizer que não falei de flores, o ponto positivo que se mantém nos 3 longas animados é a violência! O filme é bem violento e, incluive, nem os protagonistas se mantém inteiros até o final! E, não, eu não quero dizer que eles terminam o filme arranhadinhos e sem um ou dois dentes! Eles PERDEM PARTES DO CORPO MESMO! Então, isso sim, soa como Mortal Kombat! Mas é como eu sempre digo, não adianta colocar granulado em cima de merda e achar que vai virar brigadeiro.
Enfim, Mortal Kombat Legends: Snow Blind já me parecia ruim no trailer mas o produto final conseguiu se mostrar ainda pior pra mim! A qualidade da animação e o visual passariam tranquilamente por uma animação infanto-juvenil, como As Aventuras de Jackie Chan por exemplo, mas a violência lembra que é um produto pra um publico adulto. Então se você gosta do Kenshi e não liga muito pra qualidade de animação, talvez você goste. Mas como eu não sou muito chegado ao Kenshi e LIGO MUITO pra qualidade de animação, sobretudo pra qualidade que um longa animado enquanto produção isolada deve ter, eu achei beeeeeem abaixo da média.