Justiceiro Max de Jason Aaron: Um reviewzão.

Vou tentar não deixar muito longo…mas sei que vou falhar miseravelmente.

No inicio dos anos 2000 Garth Ennis trouxe o velho Justiceiro de volta após a NOJENTA frase do “Justiceiro Anjo” e bibibi, bóbóbó…essas história é mais velha que a posição de cagar e todo mundo tá cansado de ouvir! Ennis produziu um dos maiores e, quiçá, o MELHOR run com o personagem. Mas um dia a festa acaba e o sujeito certamente tinha muitas outras coisas que gostaria de fazer que ficar preso a um título por TODA A ETERNIDADE!

A Panini está relançando essa fase DE NOVO, só que dessa vez mais cara pras pessoas que gostam de pagar valores absurdos em gibizinhos! Panini, sempre pensando em você, otár…AHEM…leitor!

E eis que em 2010 Jason Aaron assume o titulo do personagem no selo MAX, linha de quadrinhos mais “barra pesada” da Marvel onde pode rolar de quase tudo. O run durou 22 edições lá fora que foram compiladas em 4 encadernados pela Panini por aqui. Nunca tinha lido esses encadernados, então não sabia bem o que esperar. Então vou falar de TODOS eles aqui, já que “importei” todos de uma vez e já que eles formam um arco com começo, meio e fim com direito a muitas surpreas. A maioria, infelizmente, não muito boas…

Antes de fazer a resenha de todos os encadernados, vou dar uma rápida sinopse de cada um e em seguida falarei de todos como uma história só, porque basicamente é o que eles são.

Justiceiro Max Vol. 1: Rei do Crime

As cinco famílias mafiosas de Nova York estão com problemas. Há 30 anos o Justiceiro vem atrapalhando seus negócios e matando mais homens do que eles conseguem contratar. Afim de desviar a atenção do vigilante de suas operações, Don Rigolleto tem um plano: Criar um “mafioso fantasma”, um chefão do crima ficcional que estaria subindo na cadeia alimentar do crime e que faria o Justiceiro ir correndo atrás dele deixando as cinco famílias livres para operar. O tal chefão do crime de mentirinha teria até uma alcunha nada sútil, o Rei do Crime. Para colocar o plano em prática, Don Rigolleto deixa tudo nas mãos de seu fiel guarda-costas e a verdadeira mente por trás da ideia, Wilson Fisk. O que Rigolleto não sabe é que Fisk tem ideias muito particulares de como esse plano deve seguir e que vai usar a liberdade que ganhou de seu chefe pra contruir sua própria escada no crime organizado. No caminho de Fisk, apenas o Justiceiro, que ele vai descobrir que tem uma obstinação tão grande ou até maior que a do futuro Rei do Crime.

Justiceiro Max Vol.2: Mercenário

Wilson Fisk é o novo, mais poderoso e mais temido chefe do crime organizado de Nova York. Porém, o caminho que percorreu pra chegar onde chegou cobrou pedágios caros demais. Entre eles, Fisk se tornou o principal alvo do Justiceiro. Inseguro de sair de sua torre, Fisk precisa que Frank Castle seja eliminado e, para isso, contrata os serviços do assassino conhecido como Mercenário. O que Fisk não sabe é que o Mercenário é tão instável mentalmente quanto é letal. Agora uma violenta caçada irá começar com o Mercenário tentando entender a mente de Frank Castle e deixando um rastro de matança por onde passa só pra alcançar esse objetivo. Enquanto isso, Frank Castle começa a sentir os efeitos da idade avançada e dos abusos ao seu corpo durante anos de combate ao crime organizado. O duelo entre o velho Justiceiro e o jovem e letal Mercenário promete ser um banho de sangue.

Justiceiro Max Vol.3: Frank

O confronto com o Mercenário não deixou apenas sequelas fisícas em Frank Castle como também lhe abriu feridas mentais. Preso em uma solitária enquanto outros presidiários planejam sua morte, Frank Castle começa a relembrar seu passado e as coisas se mostram mais sombrias do que poderíamos imaginar. A vida pós-Vietnam se mostrou algo mais dificil do que deveria pro jovem Frank Castle e um forte sentimento de não pertencimento aquele mundo começa a crescer dentro de si. No olho do furacão, uma velha lembraça que estava enterrada vem a tona e dá toda uma nova perspectiva a perda da família de Frank Castle e sua transformação no Justiceiro.

Justiceiro Max Vol.4: Desabrigado

Frank Castle fugiu da prisão mas graças a caçada da policia, ele não tem mais seus esconderijos e nem suas armas. Agora só resta um lugar pra voltar, a velha casa dos Castle, fechada desde a tragédia que deu origem ao Justiceiro há mais de 30 anos. Após o fracasso do Mercenário, Wilson Fisk decide fazer uma aliança perigosa com uma ancestral organização de assassinos, o Tentáculo. Como sua guarda-costas pessoal, Fisk recebe a misteriosa e letal Elektra. É hora do acerto final de contas entre o Justiceiro e o Rei do Crime, mas um terceiro elemento pode influenciar o resultado dessa guerra, pois Vanessa Fisk quer vingaça…contra seu marido.

AGORA SIM, A RESENHA!

Como eu disse anteriormente, essa série do Justiceiro Max tem começo, meio e fim e ela não se encaixa cronologicamente com NENHUM dos universos Marvel conhecidos! Apesar de citar vilões anteriores da fase do Garth Ennis, como o Barracuda, a série Max do Jason Aaron é uma série isolada, livre de amarras cronológicas. E você já deve ter notado isso lendo a sinopse da primeira edição, já que a história se passa após 30 anos de atividades do Justiceiro e Wilson Fisk ainda é um simples guarda-costas de um mafioso. Isso fica ainda mais claro quando o resto do elenco pertecente ao Demolidor aparece completamente “desfigurado”, por assim dizer.

O Mercenário é um psicopata maluco no universo 616, mas aqui Jason Aaron dá uma exagerada na maluquice do sujeito. Ele se torna obcecado pelo Justiceiro a ponto de desenvolver uma relação de admiração e amor de fã. Além disso, algumas mortes causadas pelo personagem exageram na crueldade, mas exagero é uma palavra chave nessa série. É importante notar duas coisas, a primeira é que o Mercenário dessa série, apesar de ter sido lançada em 2010, tem o visual baseado no Mercenário interpretado por Colin Farrel no filme do Demolidor de 2003. A segunda é que ele não tem a habilidade de usar qualquer objeto pra matar pessoas, isso até vira uma piadinha em um momento. Aqui o Mercenário é só um cara com um baita treinamento, obcecado por matança (e quanto mais violentas as mortes, pra ele melhor) e cujo truque mais “incomum” durante toda a história é esconde um pequeno revolver tão fundo dentro do próprio reto que nem uma revista intima foi capaz de detectar.

As habilidades do Mercenário clássico viram piada nessa versão.

A Elektra dessa série é a personagem que mais me incomoda. Aliás, o Tentaculo aqui lembra em nada o original. Ele se resume a um japonês de terno fazendo agenciamento de guarda-costas pra o Rei do Crime. A Elektra aparece e é uma mulher comum, sem a beleza exuberante originalmente concebida por Frank Miller, com habilidades letais na hora de matar. Aqui ela é uma personagem que foi jogada no clichê furreca da guarda-costas metida a durona que veste jaqueta de couro o tempo todo. Aliás, tem uma cena digna de filmeco de ação B onde Elektra e o Rei do Crime matam representates de famiílas mafiosas rivais e, do nada…começam a fazer sexo em cima da mesa com os corpos ao redor. Sério, essa foi de longe A PIOR REPRESENTAÇÃO DA ELEKTRA que eu já tive o desprazer de ler.

O Rei do Crime também não fica atrás no quesito descaracterização. Além de desenhando bem menos gordo do que deveria e não passar realmente o ar de ameça que normalmente passa em outras histórias, esse Rei do Crime demonstra desespero diante de seus subordinados, morre de medo de Frank Castle, chama palavrão quando esquenta a cabeça…basicamente ele é aquele vilão de filme B que perde as estribeiras quando o herói está desmantelando suas tramoias e se aproximando dele. MUITO diferente do Rei do Crime que não se demonstra abalado com nada diante de seus subordinados, que quando fica puto demonstra só com um olhar e que fala só quando necessário. Ah, e que intimida só pela presença, enquanto esse, em dados momentos, se mostra completamente assustado e fica suando as bicas. Um exemplo disso é toda vez que ele encontra Elektra e fica gaguejando e morrendo de medo da “ninja que não é ninja”.

Vale citar também que NÃO EXISTEM SUPER-HERÓIS NESSE UNIVERSO! Apesar de termos o Rei do Crime, Elektra e o Mercenário, não existe um Demolidor. Não são noticiadas super façanhas de super pessoas porque elas simplesmente NÃO EXISTEM AQUI! O único outro personagem Marvel a aparecer aqui é Nick Fury, mas numa versão mais pé no chão e ex-companheiro de guerra de Frank Castle.

Existe também um suposto grande segredo envolvendo a morte da família Castle, mas pra falar disso eu preciso largar alguns spoiler, então fica o aviso:

ATENÇÃO: SPOILERS A FRENTE

Durante as loucas tentativas de entender o Frank Castle, o Mercenário se dá conta de algo e no final do confronto entre ele e o Justiceiro, ele sussura o que descobriu e deixa Frank Castle claramente atonito. Essa descoberta é o tema do terceiro encadernado intitulado “Frank”. Nele descobrimos que quando esteve no Vietnam, Frank Castle ecnontrou seu lugar no mundo. Sua vida parecia ser guiada pelo conflito e pela necessidade de matar os inimigos. Quando está num hospital de campanha, um paciente amarrado a uma cama diz que Frank é igual a ele e que seu maior medo não é a guerra, é voltar pra casa, pois Frank é um soldado e a guerra está no seu sangue. Ser um cara normal, numa vida normal com uma família normal, não. E isso se enraiza fortemente na mente de Frank.

Quando volta pra casa, Frank fica frio com sua esposa e seus filhos. Ele tenta evitar confusão no empregos que arranja, mas a vida pacata vai lhe corroendo por dentro. Quando chama sua esposa e seus filhos pro fatídico piquenique, na verdade Frank ia pedir o divorcio a Maria e dizer que ia embora. Ou seja, a morte de sua família foi quase uma saída fácil pra tudo aquilo.

Essa trama torna essa versão do Justiceiro a MAIS DETESTÁVEL DE TODAS! O lance de Frank ser um viciado no conflito já havia sido trabalhado por Garth Ennis, mas aqui Jason Aaron leva isso pra uma trama que deixa o personagem odiável e mata parte da lógica de sua guerra ao crime. Basicamente ele é um cara que gosta de matar e matar bandidos é um jeito de fingir que tem um código moral além de ter um aval velado da policia pra fazê-lo. Essa revelação cagou tanto essa versão do personagem pra mim que quando ele morre no final (sim, ele morre mesmo no final) eu não tava nem aí.

FIM DOS SPOILERS!

Outro ponto que me deixou meio desconfortável foi a violência. Não, eu não esperava que uma história do Justiceiro desenhada pelo saudoso Steven Dillon não tivesse violência! Mas é que aqui soa como se o Jason Aaron dissesse “Ah, então o Grath Ennis faz histórias do Justiceiro ultra-violentas! Eu posso fazer MELHOR!” e deu uma pesada na mão que soa mais como uma competição como algo que realmente seja necessário a trama. Não que a violência nas histórias do Ennis sejam…mas vocês entenderam meu ponto!

Acreditem ou não, essa é a parte mais “suave” dessa “conversa”.

De positivo eu devo destacar o lance do Frank ser tratado como um idoso cujo corpo tá cobrando o preço. Isso é legal, o sujeito tá aí desde os anos 80 na sua cruzada e uma hora as juntas vão doer, os ferimentos vão afetar a movimentação e coisa e tal. Legal também é o Steven Dillon ( que como todos sabemos, não era lá o mestre da inventividade narrativa) mostra como a cara do personagem envelheceu mesmo com o tempo, ao contrário de alguns desenhistas que só metem uma mecha branca e uma barba no desenho do personagem com a mesma cara que tem ainda jovem e diz “pronto, ele está mais velho agora, viu?”. Porém, o próprio Jason Aaron admite que essa ideia partiu das histórias do Garth Ennis, que fez o personagem ir envelhecendo quase que em tempo real em sua passagem pelo título do personagem.

Se eu fosse resumir TUDO ISSO que falei até aqui, eu diria que Justiceiro Max do Jason Aaron parece uma mistura dos filmes Marvel produzidos pela Fox no inicio dos anos 2000, onde as origens dos personagens eram mudadas completamente e alguns personagens não se comportavam como deveriam , além de ter um roteiro bem chinelo; e com as séries Marvel da Netflix, excetuando o Demolidor, onde eles jogavam personagens do Demolidor em suas tramas pra tentar deixar menos marasmenta mas eles apareciam completamente desfigurados, como foi o caso do Bazuca em Jessica Jones e Mary Tyfoid em Punho de Ferro.

Não é a melhor coisa já feita com o Justiceiro e se você for um tanto preciosista com as motivações do personagem, não vai curtir muito não (até hoje não aceito o lance do governo ser o responsável pela morte da família do Frank na série da Netflix, isso mata o lore do personagem pra mim! Pera…eu falei “lore”? Meu Deus…NO QUE ME TRANSFORMEI!). Porém, se versões diferentes de personagens em histórias isoladas não te incomodam, talvez você se divirta. Mas, pra mim, o Justiceiro MAX do Jason Aaron leva uma…

NOTA: 6,0