Highlander:The Seach for Vegeance.

THERE CAN BE ONLY ONE, CARAI!!!

Em 1986 chegava aos cinemas Highlander (Highlander: O Guerreiro Imortal, no Brasil), o filme que contava a história de Connor MacLeod, um guerreiro das highlanders escocesas que acabava sendo morto em batalha por um misterioso guerreiro russo conhecido como The Kurgan. Porém, misteriosamente, Connor volta a vida e é expulso de seu clã por acharem que ele tinha pacto com o demônio. Isolado e vivendo com Heather, sua esposa, Connor é encontrado pelo imortal egípcio e bon vivant, Juan Sanchez Villa-Lobos Ramirez, ou simplesmente Ramirez para os intimos, que o explica tudo sobre o que Connor é e o que deve fazer. Os imortais estão predestinados a lutarem entre si e só podem morrer quando suas cabeças são cortadas (o que não os torna muito imortais…mas tudo bem,segue o jogo), fazendo com que o vencedor herde a força e habilidades dos adversários através de um fenômeno chamado The Quickening ( “A Aceleração” que no brasil traduziram como “O Despertar” ). A rivalidade entre Connor e Kurgan se arrastará pelas eras e seu combate final está pronto para acontecer nos dias atuais (de 1986, claro), e esse combate será definitivo, pois a regra suprema entre os imortais é que no fim, só pode haver um!

O filme estrelado por Christopher Lambert e Sean Connery virou um clássico de fama mundial. O conceito dos imortais é conhecido por todo o mundo, apesar de muito comum e erroneamente as pessoas acharem que a palavra Highlander é o nome dado a raça de imortais quando, na verdade, se refere a origem do personagem Connor MacLeod, nascido e criado nas terras altas da Escócia, as chamadas Highlanders (que significa exatamente “terras altas”). Ainda assim, garanto que você já ouviu alguém dizer “Esse cara é um highlander!” depois de ver alguém sair ileso de um acidente grave. Apesar de toda a fama que o filme e sua mitologia gozam hoje em dia, na época de seu lançamento, foi um FRACASSO RETUMBANTE! Tendo custado 16 milhões (em alguns lugares fala-se em 19 milhões), o filme arrecadou “míseros” 12 milhões mundialmente. Ainda assim, o filme de Russel Mulcahy acabou se tornando um cult e se recuperou nas vendas de home-video, o que levou o estúdio a investir em duas sequencias diretas, uma série pra TV e dois filmes derivados da série, além de um desenho infantil e, finalmente, a obra que é o tema deste post, o anime de 2007 produzido pela Madhouse e dirigido por Yoshiwaki Kawajiri, Highlander: The Search for Vegeance.

Antes de mais nada, uma breve sinopse: No ano de 125 DC, na Britânia, os romanos estão em guerra com escoceses de uma vila local. Liderando os romanos está o frio e calculista Marcus Octavius, liderando os escoceses está Colin, munido de coragem mesmo que esteja prestes a lutar uma guerra perdida, já que tem apenas 400 homens em seu exército contra 2 mil do exército de Marcus. Afim de impedir que a batalha aconteça e salvar seu marido, Moya, esposa de Colin, vai até Marcus e oferece seu corpo em troca da retirada das tropas romanas. Marcus recusa e Moya revela que tudo não passava de um plano para se aproximar e assassinar o general romano. O que Moya não sabia é que Marcus é um imortal. Ele não apenas destrói a vila de Colin como crucifica Moya. Colin foi o único sobrevivente da batalha, pois na noite em que foi até Marcus, Moya o drogou. Colin vai até Marcus em busca de vingança mas acaba sentido algo estranho quando se aproxima dele e acaba sendo capturado. Marcus desafia Colin para um duelo e o acaba “matando”, cortando sua cabeça ao meio. Só que o cavalo de Colin saí em disparada, assustado, e derruba o corpo de Colin bem no centro de Stonehenge. Estando em solo sagrado, Marcus é proibido de atacar Colin, segundo as leis dos imortais. Dias depois, Colin acorda vivo e conhece Amergan, um velho druída…ou melhor …o espírito de um velho druída que explica o que Colin é e vira seu guia e conselheiro, mesmo que Colin quase nunca o ouça. Agora Colin vai dedicar sua vida imortal a encontrar Marcus e vingar Moya. O que vai levá-lo até uma Nova Iorque destruída em 2187 que Marcus comanda com mão de ferro e um vírus está dizimando a população que vive fora dos muros de sua fortaleza.

Yoshiwaki Kawajiri é o diretor de um dos animes favoritos das irmãs Wachowski, criadoras da trilogia Matrix, tudo graças a um anime de 1993 chamado Ninja Scroll. E eu nãos as culpo! Ninja Scroll é um OVA maravilhosamente bem animado, com um visual incrível, cenas de luta de encher os olhos e um ritmo vertiginoso. Muito provavelmente foi essa enchida na bola de Kawajiri por parte das irmãs Wachowski, que fez com que o MARAVILHOSO Vampire Hunter D: Bloodlust, baseado na famosa série de livros japoneses, tivesse seu lançamento focado no mercado americano, inclusive tendo sido animado levando em conta a dublagem em inglês. Após isso, ele foi convidado pelas próprias Wachowski para animar um segmento da antologia Animatrix, de 2003. Em 2008, Kawajiri faria um segmento para a antologia animada Batman: Gotham Knight e,mais uma vez, o segmento do sujeito se destacava dos demais. Então, em 2011, Kawajiri lança mais um trabalho focado no publico americano, que é justamente Highlander: The Search for Vegeance. O longa tem tudo que é característico de seus trabalhos, desde o character design único e facilmente reconhecível, até o dinamismo nas cenas de ação. Mas o resultado final ficou um pouco abaixo de seus trabalhos anteriores. Porém, antes de apontar as falhas, vamos falar das qualidades do filme.

Cena de Program, seguimento dirigido por Kawajiri em Animatrix.

HTSFV (vou usar siglas agora que tá dando nos nervos ter que repetir esse título gigante) é, com toda a tranquilidade, o melhor filme da franquia depois do original. Ele mistura o conceito do primeiro filme, de ser uma história de origem e mostrar a vida imortal do personagem através das eras, com o conceito do HORROROSO do segundo, que é o fato de se passar no futuro. Só que dessa vez não tem baboseira de “os imortais são extraterrestres” ou “viajantes do tempo”,como fizeram no director’s cut afim de tentar concertar a merda. Certo que o futuro de HTSFV é um baita de um clichê, com a sociedade vivendo nos esgotos pra fugir de um governo autoritário ( O Demolidor do Stallone manda a quele abraço) com um vírus mortal assolando parte dela de brinde. Ainda assim, é um futuro que consegue casar com a proposta do longa original sem ofender a inteligência do expectador como foi em Highlander 2: A Ressurreição.

Esse filme é RUIM em tantos níveis….

Outra coisa bacana está no respeito a mitologia dos imortais e alguns detalhes extras que são mais evidenciados aqui que nos filmes ou na série de TV. Após derrotarem outro imortal, os imortais ganham sua força e experiência através do Quickening. Nos filmes você não via muita diferença nos personagens, por mais imortais que eles tivessem matado (“falar” isso em voz alta soa meio idiota, confesso…) , já aqui você consegue notar isso, sobretudo no personagem do Marcus, que é uma centena de anos mais velho que Colin. Ele luta com uma tranquilidade incrível pois tem todas as habilidades dos imortais que já matou. Quando ele dá uma estocada com a espada em Colin, que está caído ao chão, todo o piso racha porque ele também tem a força ampliada graças a absorção da força de seus adversários. Em determinado momentos ele chega a segurar a lâmina da espada de Colin com as mãos nuas sem nem se cortar! E uma coisa que é mostrada mais em Colin com o passar do filme é que, com o passar dos anos e com seu fortalecimento também graças ao Quickening, seu “fator de cura” vai ficando mais e mais forte. Em sua primeira morte ele passa dias até se levantar novamente em Stonehenge. Quando o filme passa para 2187, em uma cena ele é jogado de um prédio por Marcus e volta a vida apenas alguns segundos depois.

Colin tendo um PÉSSIMO dia.

Outro fator muito positivo e que no filme original vemos pouco (muito provavelmente por questões orçamentárias) é Colin atravessando várias épocas diferentes e enfrentando Marcus em várias guerras importantes da história ao redor do mundo. Semana passada eu descobri que o filme tinha uma versão do diretor com 10 minutos a mais, e o legal dessa versão é que mais passagens de Colin por épocas diferentes são inseridas, como ele se juntando as cruzadas ou indo lutar na China.

Colin Cruzado.

Pra fechar os pontos positivos, temos a rivalidade entre Colin e Marcus. Enquanto no filme original temos Kurgan como um vilão selvagem, mais dentro do clichê do “bruto burro”, aqui temos um vilão que é MUITO MAIS INTELIGENTE que o protagonista. Apesar de só se bandear por lado de grupos filhos da puta, como os nazistas por exemplo, mas isso é explicado pela sua noção de “raça dominante” que já vem de seu berço romano, Marcus é inteligente e usou sua imortalidade pra se aperfeiçoar em vários campos, como arte, música e, claro, guerra. Já Colin passou toda a sua vida focado apenas em vingança pura e simplesmente. Isso rende uma cena em que Marcus dá uma bronca em Colin dizendo algo como “Eu usei minha imortalidade pra aprender várias coisas. E você? O que fez com a sua? Só sabe correr atrás de vingança?” e você fica pensando “Esse filho da puta tem razão, hein…”.

De negativo…e eu não diria que é bem “negativo”, na verdade…está no fato de que, em comparação com os outros trabalhos de Kawajiri, HTSFV é o mais “simplório”. Ele ainda é muito bem produzido, muito bem animado, as lutas são bacanas…mas tudo em menor escala! Pra entender isso, indico assistirem Ninja Scroll e Vampire Hunter D: Bloodlust e prestem atenção em como as lutas são mais elaboradas, movimentadas e dinâmicas além de terem um visual mais detalhado e uma identidade mais própria. HTSFV ainda tem tudo isso mas, como eu já disse, é em menor escala, dando a impressão de que aqui foi optado por uma produção com um tom mais genérico, sem grandes destaques dentro da filmografia de Kawajiri. Mas dentro da filmografia do sujeito, apesar de tudo isso, eu não diria que a produção de HTSFV é ruim. Diria que os demais filmes do Kawajiri são ÓTIMOS e HTSFV seria “apenas” muito bom.

Esse ar “genérico” a que me refiro pode ser melhor percebido no desenho dos coadjuvantes. Kawajiri sempre prima por coadjuvantes com características e visuais marcantes, aqui eles são muito simples visualmente.

O roteiro de David Abaramowitz acerta mais no passado e no relacionamento entre Marcus e Colin do que no futuro e nos personagens que nele vivem. É tudo genérico demais e com cara de requentado. Da mocinha que precisa de ajuda e se apaixona pelo protagonista, passando pelo cientista/médico quase desesperançoso que usa cavanhaque e óculo até o moleque safo que insiste em acompanhar o protagonista por mais perigoso que seja a missão. Unido a isso temos a fortaleza futuristica impenetrável do vilão, a sua guarda-costas/ amante que está sempre sensualizando e matando pessoas enquanto sensualiza, os guardas robôs que atiram mal pra porra e a ameaça de algo que pode acabar com os pobres. Essa ultima parte parece o Brasil atualmente…

Mas o Malike, o imortal que usa uma serra elétrica no lugar de uma espada, foi uma sacada PHODABAGARAI!

Uma baita de uma derrapada no roteiro e que faz o título do filme perder o sentido é que o Colin…NÃO É UM HIGHLANDER! Apenas eras depois de seu primeiro confronto com Marcus é que ele acaba se unindo ao clã MacLeod e acaba virando um “Highlander” honorário, e isso nem é explorado no filme, é só uma sequencia de uns 5 minutos e pronto! Só pra estabelecer que ele já foi um Highlander, pro nome da franquia fazer sentido na animação, e pra dizer que foi um MacLeod, o clã que, aparentemente, mais fabrica imortais no mundo! Deve ser algo na água deles…

O defunto Colin é nomeado Highlander honorário.

A dublagem em inglês é fator que denota algo que muita gente já sabe: Americanos não sabem dublar direito! Certo que a dublagem primária do anime foi em língua inglesa e, possivelmente, as vozes tenham sido gravadas antes de animarem , o que deixaria os atroes e atrizes mais a vontade pra interpretar…mas tem uns que nem reza braba salva! O moleque que insiste em acompanhar Colin carrega uma das PIORES interpretações do filme! Sempre caricata e alegre demais até em momentos tristes ou tensos com o agravante de soar como um misto de ter uma bala entalada na garganta e anos como fumante. A guarda-costas de Marcus exagera nos sussurros sensuais e eles entram até quando ela vai dar bom dia. Um caso curioso é o do dublador de velho druida, Amergan. Scott McNeill, que é dublador calejado, é o mais talentoso da equipe DE LONGE! Tanto que faz mais de um personagem no filme e você nem percebe! O problema é que, como eu já disse, o filme ganhou um director’s cut e teve alguns diálogos modificados, então ganhou uma nova dublagem com o mesmo elenco. Mas McNeill parece ter esquecido qual era a voz que tinha escolhido para Amergan, já que na primeira dublagem ele soa bem mais velho e fanfarrão do que no Director’s Cut, onde ele soa mais sério e sombrio, inclusive com um tom de voz muito diferente me levando a crer que tinham trocado o dublador. Mas era o próprio McNeill, e quero acreditar que isso tenha se dado devido ao fato dele dublar tantos personagens no filme que esqueceu qual era a voz certa de Amergan. Mas até o erro do cara sai bom, pois a nova dublagem também funciona e ele continua ótimo. Ah, e as vozes de Colin e Marcus também são muito boas, com destaque para o dublador do Marcus, o veterano Nolan North, famoso por ser a voz de Nathan Drake na série de jogos Uncharted, do Deadpool no jogo do personagem e, atualmente, do Homem de Ferro no novo jogo dos Vingadores.

https://www.youtube.com/watch?v=FsqdUOvhpdY
Aqui o primeiro teaser promocional d o filme lançado 13 anos atrás. Lembro que fiquei MALUCO quando vi!

Enfim, Highlander: The Seach for Vegeance é, sim, o segundo melhor filme da franquia, perdendo apenas para o primeiro, como eu já disse (mas ganhando quando entramos no campo das lutas, já que no Highlander original as lutas de espada são HORROROSAS). Vale a pena a conferida não apenas para quem é fã da franquia mas para quem é fã de animação de um modo geral, já que funciona muito bem como obra isolada.

Nota: 8,0

Ah, ficou curioso pra ver o filme mas não sabe onde procurar (ou é só um(a) preguiçoso(a) do caralho e não assiste nada que já não esteja na Netflix)? Então titio Hellbolha te entrega de bandeja o filme que está completinho e legendado no YouTube! Mas já aviso que está com uma qualidade bosta de 360p! Se quiser qualidade melhor MEXE ESSE TRASEIRO GORDO E VAI PROCURAR NA INTERNET, CU DE PREGUIÇA! E tenho dito!

PS: O Vinnie escreveu um dossiê sobre a saga, com posts MUITO MAIS CURTOS que esse, então você pode ler tudo sem xingá-lo como provavelmente esteja fazendo comigo agora mesmo. Você pode lê-los clicando AQUI!