Divagações Sertanejas: Como mataram minha vontade de ler quadrinhos..

Faz tempo que eu não compro nada em banca…

…e a tendência é que esse tempo se estenda indefinidamente. Sim, porque eu não sou um cara abastado, eu tenho que contar moedas pra fazer certas “extravagâncias”, como ir ao cinema com a namorada ou mesmo parar num dia quente pra tomar um sorvete. E eu tenho certeza de que muita gente que está lendo isso passa pela mesma situação (com ou sem namorada, que fique claro). E agora, uma das minhas maiores diversões se tornou uma de minhas maiores frustrações.

Sim, eu não sou um dos caras da geração “Tem quem ser capa dura!” ou “Porra! Cofre certo!” ou “É de tal autor? Vou comprar!” ou ainda “Não sei se é bom ou ruim, ainda não li. Mas fica lindo na minha estante!”. Sou um sujeito de uma geração que lia quadrinhos pela diversão, não importava o tipo de capa ou a gramatura de papel. Sou da geração em que “Edição de Luxo” vinha estampado em um formato americano que hoje em dia nada mais é que uma mensal comum. Mas o tempo da diversão acabou e agora o mundo é dos “colecionadores de aparência” que pagam qualquer preço pra se manterem assim. E as editoras perceberam isso. E é justamente por isso que não compro mais nada em banca.

Preços absurdos em edições de capa cartonada, preços obscenos em edições de capa dura com histórias que nem mereciam, preços ridículos em mensais com menos de 100 páginas. Muita gente pode cantar a pedra da crise (que parece que virou o Exódia dessas discussões), mas se tem uma coisas que as editoras nunca procuraram em meio a crise foi baratear os custos de suas publicações, muito pelo contrário. Parece que com a crise, o número de besteiras em  capa dura triplicaram, a quantidade de lançamentos “de luxo” também! E nem pras mensais procuraram soluções, como usar um papel mais barato. Tudo tem que ser lindo, caro, reluzente e vazio.

As publicações que pareciam que não iriam sofrer desse mal, os mangás, já entraram na onda. Eu ADORO Saint Seiya mas reconheço todos os defeitos da obra do “””””mestre””””” Kurumada e tenho plena ciência de que era o ultimo mangá da face da Terra que merecia uma versão em capa dura com seus desenhos medonhos e sua história entupida de furos. Mas o fã “colecionador de aparência” precisa desesperadamente, afinal é um “clássico que marcou minha infância”. E é por isso que os editores da JBC já participaram de um podcast se gabando de serem a única editora a ter um mangá capa dura quase que num tom de escárnio, quase que dizendo “Só temos porque sabemos que tem quem pague um absurdo por isso”.

Agora temos HQs muito caras, mangás muito caros e editoras pouco preocupadas com a qualidade, vide a Panini e seus famosos erros de revisão grotescos. Agora eu entro nas bancas, olho ao redor e percebo que só faço isso como um velho hábito, como um idoso que passa na frente de um shopping, para e começa a lembrar que outrora em sua vida ali já fora uma pracinha onde viveu bons momentos, pequenos momentos de felicidade genuína, mas que agora é só um lugar disforme onde as lembranças vagam em meio a saudade.

Ontem passei pela feira da cidade e um senhor que vende discos usados e revistas antigas tinha uma caixinha pequena com alguns formatinhos Marvel e DC da Abril. Lembro que certa vez comprei uns formatinhos nesse mesmo lugar e um amigo meu me criticou por comprar algo tão ultrapassado. Mas ontem eu comprei 4 formatinhos, paguei R$3,00 em cada um e confesso que há tempos não comprava algo e tinha uma sensação tão gostosa de contentamento. Um sentimento que não tenho mais quando entro nas bancas e, sabe lá Deus, se um dia terei de novo…