Review Tagarela- Deadpool: Fator de Cura (com spoilers)

Sim, eu vou falar sobre Deadpool de novo! Mas só porque a Gail Simone merece!

Se você leu meu post anterior, onde falei do Agente X, sabe que o personagem surgiu duma tentativa mambembe da Marvel de alavancar as vendas do Deadpool. Pois bem, hoje falarei do arco que precedeu essa mudança e que apesar de muito divertido e de ter influenciado algumas coisas nos filmes do personagem, sobretudo no segundo, é pouco ou quase nada lembrado pela galera. Lhes apresento o arco Fator de Cura, que poderia ser chamado de maneira spoilerenta de A Morte de Deadpool.

Como eu sempre digo, pra mim o melhor run do Deadpool é o do Joe Kelly, no qual os filmes do personagem se baseiam completamente. Só que nem tudo é perfeito e dos 33 números que Kelly roteirizou é preciso admitir que lá pela metade a coisa já não anda muito bem. O seu run termina bem ruinzinho com revelações idiotas e deixando um terreno horroroso pra os roteiristas que o precederam, os quais andaram nesse terreno pisando apenas nos buracos e deixando as coisas ainda piores. Quando Gail Simone assumiu o título, na edição 65, ela resolveu começar um novo arco e deixou as coisas bem mais simples! Nada de um grande plano de uma agência multi-dimensional que via em Deadpool a salvação do universo, nada de Wade Wilson ser uma identidade roubada de um cara que esperou 30 edições pra fazer essa revelação enquanto só fazia cara feia pro Deadpool, nada de Deeapool derretendo e tendo que ficar num tipo de tanque de bacta. Não senhor! Acompanharíamos apenas Deadpool fazendo seu trabalho de mercenário enquanto largava suas tradicionais piadotas em histórias leves, bem humoradas e com algumas participações especiais. Sim, era basicamente o que o Joe Kelly fez no começo de seu run antes de despirocar tudo, só que com alguns novos elementos.

O arco Fator de Cura durou apenas cinco edições, de Deadpool 65 a 69, então o título foi cancelado pra dar lugar ao Agente X. No Brasil esse arco foi publicado em uma minissérie em 3 partes em 2003 e relançando em 2004 num encadernado feito a partir de encalhes. Sim, meninos e meninas, houve uma época em que nem tudo era encadernado de luxo em capa dura ou coleções bem (ou mal) planejadas em capa cartonada! As vezes as editoras colocavam algo em banca que não vendia bem e quando recolhiam os encalhes, pra não perder muita grana, arrancavam as capas, faziam uma nova capa em papel cartão, e colavam as edições em ordem dentro dessa nova capa. Não, eles não faziam uma nova revisão na tradução, não faziam uma nova diagramação, não faziam uma nova tradução, não colocavam extras…NADA! Eles simplesmente jogavam esses edições lá como tinham ido originalmente pra banca. Eu tenho esse encadernado do Deadpool porque eu só tinha conseguido as edições 2 e 3 da minissérie e a parte mais divertida do encadernado é ver o checklist do mês ao fim de cada edição que foi lançada UM ANO ATRÁS! Ah, a Mythos ainda faz isso hoje em dia. Os encadernados do Juiz Dredd são um exemplo disso.

Bam, mas vamos voltar ao que interessa e ir pra uma pequena sinopse.


A história começa com Deadpool indo cumprir um contrato durante uma reunião das quatro maiores famílias criminosas do oriente, conhecidos como Os Quatro Ventos. O contratante foi um dos Quatro Ventos que encomendou a morte dos outros três afim de tomar o poder das quatro famílias para si. O problema é que assim que ia disparar os tiros nas vitimas a partir de uma abobada de vidro que ficava no teto do local, um dos seguranças de uma das famílias derruba o mercenário tagarela de lá e, durante a queda e sabendo que ia se ferrar quando atingisse o chão, Deadpool resolve arriscar atirar no ar mesmo. Obviamente ele erra. Quer dizer…ele assim pensava, pois quando está tentando explicar porque um cara fantasiado caiu do teto sobre a mesa de jantar, os Quatro Ventos caem mortos. Sim, de algum modo, ele acertou seus alvos com o pequeno detalhe de que, acidentalmente, também matou seu contratante.

Após escapar do local embaixo de uma chuva de balas, Deadpool acaba se tornando uma celebridade no mundo dos mercenários, sendo extremamente solicitado e ganhando rios de dinheiro. Ele agora tem uma agência que fica no subsolo de uma barbearia abandonada e tem como secretária Sandi Brandenberg (personagem que surgiu na minissérie solo do Treinador). Tudo vai muito bem, até que um contrato milionário com um serviço a ser realizado na Alemanha aparece. Sem pestanejar, Deadpool parte pra lá com o mais novo contratado da sua Agência, o Podrão, um mendigo com problemas mentais que Wade contrata como seu biografo. Ao chegar ao local, Deadpool descobre que seu alvo também foi seu contratante e, não, ele não contratou o mercenário tagarela porque queria morrer. O contratante/alvo é um sujeito todo pomposo chamado Cisne Negro, membro de uma tradicional família de mercenários que sempre atuou nas sombras. Assim como Deadpool, ele havia sido contratado pra matar os Quatro Ventos. Aquele seria o ultimo serviço do Cisne Negro antes de sua aposentadoria, e ele se retiraria com estilo e glamour. Porém , Deadpool, um sujeito completamente “sem classe” se meteu e destruiu seus planos e aquilo era uma humilhação inaceitável para ele, e agora era hora da punição.

O detalhe é que Cisne Negro tem um perigoso poder mental. Ele é capaz de infiltrar um tipo de vírus na mente de uma pessoa e destruir suas memórias e sinapses até que a pessoa vire um vegetal humano. Ele infecta a mente de Wade, o espanca mas o deixa viver pra vê-lo definhar aos poucos. A partir daí seguimos vendo Deadpool tentando retomar sua vida de mercenário como se nada tivesse acontecido, até porque o encontro com o Cisne Negro foi apagado de sua memória. O problema é que ele começa a esquecer muitas outras coisas, confundir palavras, fica com uma mira horrível e começa a sofrer de terríveis dores de cabeça. E tudo isso insiste em se manifestar nos piores momentos possíveis.

Essa sinopse dá a impressão de que eu comentei praticamente o arco inteiro, né? Mas…não! Tudo isso acontece apenas na primeira edição! A partir daí a gente vai acompanhando Deadpool cumprindo outros contratos e as confusões que sua confusão mental, presente do Cisne Negro, causam. Ele só volta a confrontar o Cisne Negro na ultima edição. Seu primeiro contrato “pós-vírus mental do Cisne Negro” é conseguir o chifre do Rino! Sim, você não leu errado! Um senhor idoso e milionário quer que Deadpool traga pra ele o chifre do Rino porque, segundo ouviu falar, ele teria propriedades “afrodisíacas” e ele precisa urgentemente dessa “disposição” pra satisfazer sua muito, muito, muITO, MUITO mais jovem esposa! As tretas começam quando, no meio da missão e após descobrir que sua mira estava completamente zoada em uma cena hilária, Wade recebe uma ligação da jovem esposa do velho milionário dizendo que pagaria o dobro pra ele NÃO PEGAR o chifre do Rino, deixando bem claro que amor era a última coisa envolvida nesse casamento. O saldo final dessa empreitada ´é um Rino encolhido e se tornando o “mascote” do Deadpool e a pior terapia de casais que o mercenário tagarela poderia proporcionar.

A aventura seguinte é uma versão maluca do filme O Guarda Costas. Deadpool é contratado por um figurão de Hollywood (que tem como mascote uma Píton narcoléptica, um detalhe minúsculo na história que nem chega a ser comentado mas que eu acho sensacional) pra proteger sua mais nova estrela, uma cantora de música disco (tipo de música que o Deadpool ABOMINA) e que é velha conhecida dos leitores de X-Men. Claro que me refiro a Alison Blaire, a Cristal. A história é bem divertida mas a trama central não tem grandes ligações com o todo. Os destaques mesmo ficam pro Rino sendo usado como chaveiro pelo Deadpool e se revelando uma tiete da Cristal, o Podrão dando uma pista pra Sandi de que a viagem pra Alemanha pode ter a ver com a atual situação de confusão mental e as forte dores de cabeça do Mercenário Tagarela e perguntando ao Treinador se ele conhece alguém na Alemanha que poderia ter feito isso e o violento (e com cheiro de urina) final da hilária “parceria” entre Deadpool e Rino. Ah, e temos a introdução da Pistoleira, personagem que vai ter mais importância nas aventuras do Agente X.

A próxima história começa com o Treinador contando ao Deadpool que já esteve em uma missão com o Cisne Negro e com outro mercenário chamado Tyrel Farsa e como Farsa, que era capaz de matar um cavalo na base do soco, acabou com a mente e o corpo destruídos por ousar desdenhar do Cisne. Ah, e o Treinador quase leva a pior nessa também! Depois disso, Wade parte pra cumprir mais um contrato. Dessa vez um empresário quer matar seu rival, um ex-funcionário que ele demitiu no dia do aniversário mas acabou ficando rico e construindo um prédio em frente ao seu só pra tapar sua vista. Wade estava pra recusar mas acaba sendo convencido quando o empresário lhe revela que seu filho é um mutante que pode prever o futuro através de sonhos e vive dentro de um quarto por ter o rosto disforme e o tal ex-funcionário/rival ameaçava revelar o garoto pra mídia. Deadpool quase é morto por ter uma crise de dor de cabeça em meio a luta com os seguranças mas acaba matando o sujeito no final. Ao voltar pra falar com o filho do empresário, o garoto lhe diz que sente muito, pois teve um sonho e lhe entrega um desenho com o Deadpool morto e um cisne negro voando sobre o corpo, tal qual viu no sonho. A edição termina com o Podrão desesperado tentando avisar a Wade que Sandi está no hospital. Ah, vale destacar que é nessa história que a lambreta vermelha, que o personagem usa no segundo filme enquanto persegue o comboio que está transferindo os mutantes da prisão, aparece pela primeira vez.

Notem os adesivos estilo “moto do Kaneda” pregados na lambretinha.

A história que fecha esse arco começa com Sandi hospitalizada após ter sido espancada pelo namorado. No hospital, Sandi faz Wade prometer que não vai matar seu namorado, ao que ele concorda MUITO contrariado. Mesmo assim, Wade encontra o sujeito e o espanca por vários minutos mas o deixa viver dizendo que só não o matou porque fez uma promessa pra Sandi e vai embora. Pro azar do sujeito, o Treinador aparece dizendo que ao contrário do Deadpool, ele não tinha feito promessa nenhuma.

Agora sabendo que o Cisne é o responsável por sua deterioração mental, Wade cobra alguns favores e parte pra Alemanha junto com Podrão pra o confronto final. Após uma invasão cheia de tiros, mutilações, depredação e urina, Deadpool e Cisne estão frente a frente. Ah, e junto a eles está Nijo, o tal segurança que derrubou Deadpool do teto de vidro no começo da história. Nijo vinha trabalhando como espião do Cisne Negro desde então, acompanhando e reportando cada passo de Wade afim de conseguir vigar seu chefe morto pelo mercenário tagarela naquela noite. E quando Nijo estava pra ir com tudo pra cima de Wade…Cisne Negro o apunhala e revela que na noite em que os Quatro Ventos morreram ele, e não o Deadpool, acertou cada um dos chefes com um tiro no coração, Wade teria acertado apenas uma manteigueira e uma travessa de frutas.

Quando o confronto com o Cisne Negro estava pra começar, Deadpool revela que trouxe uma maleta com explosivo suficiente pra botar o castelo do almofadinha inteiro abaixo e que pra não fazê-lo quer um favor. Ele diz desconfiar que desfazer os danos a seu cérebro é algo impossível, ao que Cinse Negro confirma, então ele diz que quer ele conserte a mente do Podrão. Cisne diz que não sabe se consegue mas vai tentar. E consegue! Wade diz pro agora recuperado Podrão fugir dali e o combate começa. Enquanto a luta transcorre, Sandi recebe a ligação de um sujeito chamado Erik, que é ninguém menos que o Podrão agora recuperado e que diz a Sandi que Wade não vai voltar. Sandi diz que meio que já desconfiava e abre uma caixa que Wade havia deixado, meio que em tom de despedida. Dentro está uma daquelas raquetes com uma bolinha presa a um elástico. Voltando ao combate, Cisne Negro acaba amputando o braço com a maleta explosiva de Wade e exige que ele lhe dê o código, ao que Wade, claro, recusa. Cisne diz que não tem problema e que vai tirar da mente de Wade a força. É quando o mercenário tagarela aproveita e despeja toda a sua vida e sua mente perturbada na do Cisne que fica atônito e Deadpool aproveita pra jogá-lo de cara na lareira. Agora só falta desativar a bomba e Wade não lembra onde colocou o código…até que a memória o atinge como uma punch line de uma piada ruim! Ele havia escrito o código na mão pra não esquecer e foi justamente na mão que está junto com o braço decepado pelo Cisne Negro. A bomba explode e o mercenário tagarela é engolfado pelas chamar enquanto dá sua última gargalhada. Fim.

“Caramba, Hellbolha, mas tu também contou a história toda, hein!?”. Sim, eu contei! Porque sei que Deadpool não é um personagem que faça muita gente ir atrás de material novo do personagem, que dirá antigo! E, mesmo sabendo da trama toda, a história ainda diverte pelas piadotas no meio do caminho. Como eu disse, esse é meu segundo run favorito do personagem, perdendo apenas pro inicio do run do Joe Kelly. Gail Simone faz uma historinha redondinha e divertida de se ler e ainda deixa claro que apesar do filme ser Rated-R, uma história com o personagem pra ser divertida e engraçada não precisa ser. O Humor do Deadpool nunca esteve realmente na violência e na nudez nos quadrinhos, mas nas boas piadas e tirações de sarro com o universo Marvel e tudo o mais. A violência e a nudez foram um plus a mais pro filme e funcionaram, mas nunca foram a força motriz por trás do personagem. Então, sim, a Disney pode fazer um bom filme com o personagem com uma classificação mais branda, é só pegar arcos como esse como exemplo.

Se bem que já fizeram o teste e confirmaram isso com “Era Uma Vez um Deadpool”.

Agora, falando dos desenhos. Então…é o Udon! Ou você ODEIA ou você….bem…aceita! “Amar” eu acho complicado! Em 2003 eu estranhei inicialmente porque era acostumado ao traço do Ed McGuinness, mas como naquela época eu achava tudo que lembrasse mangá bacana, eu passei a gostar. É inegável que os desenhos tem problemas DEMAIS, como a movimentação meio dura dos personagens, a inabilidade de desenhar ternos ou qualquer roupa que tenha muitos vincos (os ombros dos personagens masculinos de terno param de obedecer as leis da física), as expressões faciais são bem limitadas…mas nem tudo são tragédias! O Udon redefiniu o visual do Treindor nessa época e eu o acho mais maneiro que o visual clássico ou que qualquer visual atual que emule o clássico. Aliás, acho o visual clássico do treinador HORROROSO! Ponto pro Udon!

Outra coisa bacana é que eles desenham o uniforme do Deadpool não como se fosse um colante, mas uma roupa de verdade, que tem dobras e tals, lembrando muito o que é visto no filme. Mais um ponto pro Udon! Mas são só esses dois pontos mesmo, pode parar de comemorar, Udon!

Enfim, o arco da Gail Simone é um arco muito divertido que eu aconselho a dar uma conferida (mesmo que você já saiba a história toda, desculpe). Ela continuou sua saga em Agente X e muitos dos acontecimentos desse arco, mesmo os que parecem menores, tem um grande significado pro final da epopeia de Alex Hayden. Mas isso é papo pra uma outra hora.

NOTA: 8,0

PS: Afim de chamar a galera pro título próprio do personagem, a Panini publicou o primeiro número de Agente X junto com o final da minissérie do Deadpool. Então quem, por alguma razão, comprou só o Agente X , seja na mensal ou no encadernado, que nada mais era que os encalhes das mensais em uma capa cartonada como já mencionamos acima, ficou boiando em alguns pontos porque a revista solo do personagem começa a partir do número 2. Que beleza!