“Tem alguém ai que acredita?”

¡Hola, amiches! ¿ Que tal? Esse post é o primeiro de uma série da coluna que vai abordar nossos discos gravados ao vivo favoritos. E pra começar eu resolvi tecer algumas palavras sobre uma das minhas bandas nacionais favoritas.

Formada em Salvador no ano  de 1980 pelos amigos Marcelo Nova e o baixista Robério Santana, o Camisa de Vênus era uma resposta ao descontentamento em relação a cena musical de destaque na sua terra natal. Com letras mais ultrajantes e sujas que seus contemporâneos, o Camisa logo se destacou. O nome da banda foi sugerido por Marcelo após ouvir das pessoas que compareciam aos ensaios que o som da banda incomodava (antes do termo ‘camisinha’ se popularizar, camisa de Vênus era o nome dado ao preservativo masculino).

Após dois discos de estúdio bem recebidos (principalmente o segundo, que possuía o sucesso Eu Não Matei Joana D’Arc), os garotos despertaram o interesse da gravadora WEA, porém os mesmos tinham assinado um contrato com a RGE para a produção de 3 discos. Foi então que surgiu a idéia de lançar um disco ao vivo, apenas para cumprir o prometido e pular fora da RGE. E foi assim que nasceu Viva.

Originalmente um Lp com 10 faixas ao vivo, Viva é o segundo disco nacional ao vivo mais vendido dos anos 80, perdendo apenas para Rádio Pirata Ao Vivo, da bosta do RPM. O que encontramos nessas 10 faixas é uma banda no auge de sua energia, protagonizando um dos momentos mais incríveis da música tupiniquim. Não houve corte dos palavrões presentes nas músicas e nem houve a adição dos conhecidos overdubs, retoques em estúdio de faixas ao vivo. Tudo que está nessas faixas é puro e real, da microfonia entre as músicas ao clássico grito “bota pra fudê!” vindo da plateia e que se tornou marca registrada nos show da banda.

Além disso, faixas não antes gravadas em estúdio ganharam suas versões definitivas: Silvia (com um discurso fantástico de Marcelo Nova em homenagem ao Dia Internacional da Mulher , retirado na versão em cd), Rotina, Solução Final, Homem Forte e uma versão de My Way que faria Frank Sinatra e Sid Vicious chorarem de emoção.

Além dessas, músicas presentes em seus dois primeiros discos ganharam novas roupagens e mais energia e atitude, como Metástase, a fodassa Hoje e, o grande destaque na minha singela opinião, O Adventista. Também não dá pra deixar de lado as clássicas Eu Não Matei Joana D’Arc e Bete Morreu.

Como era de se esperar, um disco desses e lançado em um período político delicado, pero no mucho, em que se encontrava o país (1986) não iria passar despercebido. Por ideia de Marcelo Nova, a banda resolveu lançar a bolacha sem passá-la pela censura. Resultado: oito das dez músicas foram censuradas por conter linguagem imprópria e o disco acabou sendo recolhido. Mas já era tarde, 40 mil cópias já haviam sendo vendidas e o disco alcançou a marca de 180 mil cópias vendidas.

O próprio vocalista conta que estava em uma loja de discos em São Paulo conferindo as novidades quando a Polícia Federal baixou no local e levou todas as cópias do disco embora. Porra, eu iria ficar orgulhoso pra caralho se ocorresse comigo uma situação dessas!

Se você resolver comprar o cd ou até procurar esse disco navegando pelas interwebs vai encontrar algumas modificações. Na versão de relançamento de 1992, a ordenas das faixas foram alteradas, a faixa Rotina ficou de fora e algumas músicas de estúdio foram adicionadas ao pacote: Lena, Negue (originalmente de Maria Bethânia), Dogmas Tecnofacistas, Gotham City, Coiote no Cio, Ladrão de Banco e Batalhões de estranhos.

Camisa de Vênus é uma das minhas bandas nacionais favoritas, o som dos caras consegue ser bom até hoje e Viva é o único registro ao vivo de uma banda dos anos 80 que presta na minha opinião. Anos depois a banda lançou se segundo registro ao vivo, Plugado e em 2004 foi lançado um dvd do show dos mesmos no Festival de Verão de Salvador, o qual possuo e também recomendo fortemente, mas nada é tão legal quanto o disco de 86 cheio de microfonia.