Boys Love e todas as formas de amar e ser do Japão à Tailândia 

por Lai A Oppa

Para termos uma discussão sobre conteúdos de mídia LGBTQIAP+ na Ásia é importante explicar o que é o Boys Love, ou apenas BL, que atende o público feminino jovem desde seu nascimento no ano de 1970. Com o  auxílio do excelente artigo “The Evolution of “Boys’ Love” Culture: Can BL Spark Social Change?” de Fugimoto Yukari, professora na Meiji University, podemos constatar e aprofundar o tema. 

Na década de 60 os mangás para o público feminino eram, em sua maioria, escritos por homens. No final da década houve uma onda de mulheres mangakás, nascidas no pós-guerra, que tomaram a frente e finalmente podiam colocar sua visão de mundo nas obras, mas a sociedade conservadora impedia a criação de protagonistas femininas pró-ativas, gerando uma leva de protagonistas limitadas e caricatas.

O movimento que deu fôlego para o Boys Love era o chamado “Grupo de Flores do ano 24”, tendo como principais nomes Takemiya Keiko e Moto Hagio autoras de shoujo (um dos sub-gêneros do mangá jovem voltado para garotas). As criações iniciais voltadas para o BL foram clássicos como Shounen no nawa Jiruberu e Po no Ichizoku. É importante salientar que em Shounen no nawa Jiruberu, mangá autobiográfico, Takemiya relata que tinha a intenção de causar uma revolução em seus mangás para o público feminino.

Foi através de romances focados em rapazes que pôde-se enfim discutir temas mais complexos e criar personagens independentes, com suas personalidades. De modo geral, a estratégia criada para descrever o romance consistia em criar um casal que parecia gay, mas na verdade era um casal hétero disfarçado. Tudo isso ocorria tendo em vista a opressão que existia fortemente na sociedade japonesa daquela época.

O fato é: O Grupo de Flores do ano 24 plantou sementes que germinaram e floresceram por todos os países asiáticos que tiveram contato com suas obras, criando expoentes que traduziam a forma de pensar gênero e sexualidade em seus respectivos países, afastando-se do disfarce de romance hétero focando nas questões que importam para a comunidade LGBTQIAP+.

Desde então as obras focadas, em maioria, na vida escolar ganharam novas roupagens como em os excelentes Given de Natsuki Kizu, focado em música e superação do luto; No.6 de Atsuko Asano, uma ficção científica focada em romper com a individualidade e na alienação; Our Dreams at Dusk de Yuhki Kamatani e Boys Run The Riot de Keito Gaku são dois grandes achados, por serem escritos por pessoas de dentro da comunidade, sendo Kamatani não binárie e Gaku uma pessoa trans. 

Fora do Japão temos fantástica trilogia Hell: Mo Dao Zu Shi; Heaven Official’s Blessing: Tian Guan Ci Fu  e The Scum Villain’s Self-Saving System: Ren Zha Fanpai Zijiu Xitong da autora chinesa Mo Xiang Tong Xiu, com obras focadas em discutir luto, guerra, clichês literários e como o bem e o mal dependem de ótica e interpretação.

Na Tailândia o foco são as séries que vão dos maiores clichês de romance escolar com a pioneira Lovesick The Series, a máfia com KinnPorsche: La Forte e ao multiverso com Vice Versa The Series. 

Belíssima ilistração feita pela Laioppa.

Para não me estender mais, segue abaixo uma listinha com nomes de filmes e séries que talvez te causem interesse.

Filmes/Séries

Your Name Engraved Herein (2020)

Dear Ex (2018)

Happy Together (1997)

His (2020)

Winter Begônia (2020)

Word of Honor (2021)

Gap The Series (2023)

Tsukuritai Onna to Tabetai Onna (She Loves to Cook, and She Loves to Eat) (2022)

Yuri On Ice (2016) 

Bad Buddy (2021)

2gether (2020)

The Tale of 100 stars (2021)

I Told Sunset About You (2020)

Cherry Magic (2020)

Once Again (2022)

Semantic Error (2022)

Not Me (2021)

Por hoje é só. Beijinhos da Lai A Oppa! 

Fonte: https://www.nippon.com/en/in-depth/d00607/