A Bíblia em Mangá: O Novo Testamento

A saga continua! Mas Deus está mais calmo nessa parte…

Atendendo a INÚMEROS pedidos das vozes na minha cabeça, continuemos e encerremos a saga do mangá bíblico que tem muito de bíblico e NADA de mangá! A Bíblia em Mangá: O Novo Testamento ( que doravante chamarei de volume 2 pra facilitar) graficamente segue o mesmo esquema de O Velho Testamento ( que doravante chamarei de volume 1) com capa cartonada, papel jornal, leitura ocidental PORQUE FOI FEITO NA INGLATERRA E NÃO NO JAPÃO, só que com bem menos páginas. Enquanto o volume 1 tinha 168 páginas sendo que apenas 130 eram propriamente de quadrinhos e o restantes eram extras ( em sua maioria falando sobre os autores e os entrevistando, tornando a coisa um tanto repetitiva), o volume 2 tem 96 páginas sendo apenas umas 60 de quadrinhos e umas 30 de extras falando AINDA MAIS dos autores, com MAIS ENTREVISTAS com eles e uma galeria com artes conceituais dos personagens com direito a Arnold Schwarzenegger e até a Motoko Kusanagi de Ghost in The Shell.

Aqui o caos visual do volume 1 é abandonado quase completamente já que a história se fixa mais em dois personagens. O primeiro, claro, é Jesus Cristo, que tem sua história contada nas primeiras 30 páginas. Sim, obviamente a coisa é bastante corrida mas, acreditem, comparado ao caos do volume 1 com seus TROCENTOS personagens se espremendo pra ter suas histórias contadas em só 130 páginas, aqui a coisa pareceu mais “fluida” dada as devidas proporções.

A segunda parte é dedicada a Saulo de Tarso, ferrenho caçador dos seguidores dos ensinamentos de Cristo mas que acaba se convertendo e se tornando Paulo de Tarso, um dos grandes pregadores do cristianismo. Isso depois de um “pedido carinhoso” do próprio Jesus agora em sua “forma divina” e que, muito surpreendentemente, rendeu uma piadinha até meio ácida por parte do roteirista Akinsiku…

Como eu disse, o caos visual é abandonado QUASE completamente. Por se focar mais nesses dois personagens, as páginas tem painéis maiores e que conversam mais entre si trazendo um pouquinho que seja de narrativa e dando sentido ao termo “arte sequencial” que tanto faziam falta no volume 1. Porém, ainda temos o problema de muitos painéis em uma só página tão presentes no volume 1. Só que enquanto no volume 1 o recorde era de 18 painéis em uma única página, aqui o Siku se controlou e o máximo de painéis por página que temos é 10, e como eles contam uma história só, não incomoda tanto.

Como eu disse, as páginas tem painéis maiores agora, dando a oportunidade do desenhista Siku brilhar com seus desenhos! Mas aí também mora o problema, pois como eu falei no post anterior, Siku NÃO DESENHA MANGÁ, ele TENTA EMULAR MANGÁ e sai… qualquer coisa! Na cabeça dele, mangá é um desenho simplificado e ponto! Então em muitos momentos os personagens tem quatro riscos na cara, dois representando os olhos, um representando o nariz e um representando a boca. Em alguns momentos os personagens, quando desenhados juntos, como os 12 apóstolos, NEM ROSTO TEM!

E como eu disse no post anterior, o Siku não é um desenhista ruim e isso fica mais que provado nos extras onde temos sketches dele desenhando personagens com traços mais realistas. O problema é que ele resolveu se meter a emular um estilo que ele não entendia bem além dos preconceitos básicos. Se ele tivesse optado por desenhar com seu traço mais realista e esquecesse o lance do “mangá”, arrisco dizer que o resultado seria uma HQ belíssima! Bem, fazer o que, né…?

Até esse estilo mais “animação 2D da Dreamworks” teria um resultado melhor.

Uma coisa que preciso falar e que achei hilária é uma contradição que a introdução da JBC e a introdução da HQ criam nas primeiras páginas. Na introdução da JBC é dito algo como “Nem todo mundo entende o que está escrito na Bíblia! A Bíblia em Mangá está aqui justamente pra isso, pra deixar tudo explicado de maneira mais simples e concisa!” enquanto que literalmente na próxima página uma introdução, creio que presente na edição original inglesa, diz ” A Bíblia em Mangá não busca explicar tudo mas, sim, incentivar que as pessoas procurem ler a bíblia para entender melhor a trama!”. Eu só imagino alguém lendo isso e ficando igual o urso do Pica-Pau.

Ah, eu já ia esquecendo! Nas páginas correspondentes a história de Jesus Cristo temos pequenos segmentos chamados de “As Parábolas de Jesus”. São quatro histórias curtas de apenas uma página cada que recontam as famosas parábolas de Cristo, como O Filho Pródigo e O Bom Samaritano, onde o Siku usa traços mais cartunescos e não se apega a temporalidade da trama, usa do gangsters em uma delas por exemplo.

Nós extras fica claro que ele queria usar o traço chamado “Chibi” ou “Super Deformed” (SD) que são aqueles desenhos onde os personagens de mangás e animes são representados pequenininhos e com grandes cabeças de caixa d’água. Infelizmente ele meio que falha nisso também.

A edição fecha com a PIOR VERSÃO DO LIVRO DE APOCALIPSE que eu tive o desprazer de ler na minha vida. Nela, uma menina de 12 que parece a Isabelle Fuhrman em A Órfã 2 com seus 26 anos tentando fingir ser uma garota de 10, está hospitalizada e pra apascentar seu coração sofrido resolver ler a Bíblia. Só que O LIVRO DAS REVELAÇÕES, O APOCALIPSE! Mas que bela e salutar ideia, criança!

Ela adormece, vira um desenho HORROROSO que tenta emular o estilo Chibi e falha miseravelmente ( DE NOVO) e sonha com o fim dos tempos numa splash page caótica.

Ah, detalhe pro Siku fazendo o paralelo inverso de Jesus e Superman e colocando o Superman pra dar uma piscadinha pro leitor no final.

Enfim, com menos problemas com relação a narrativa mas ainda com MUITOS problemas com relação a proposta, A Bíblia em Mangá: O Novo Testamento é uma obra que conta a milenar história conhecida pela humanidade e consegue NÃO emocionar por seu ritmo corrido e seu desenho caótico. Confesso que apesar da bagunça, o primeiro volume me divertiu mais por ter momentos que pareciam tirados de uma caixa de RPG de mesa e por mostrar que dava pra fazer filmes épicos e sanguinários de deixar Coração Valente e Gladiador parecendo filmes infantis, mas ninguém quer admitir que o Deus do velho testamento era um sádico com sede de sangue e fome de violência. Inclusive essa é a versão de Deus que muita gente por aí segue até hoje mesmo com o Novo Testamento dizendo “EI, MERMÃO E MIRMÃ! ISSO NÃO TÁ VALENDO MAIS NÃO, TÁ LIGADO?”. Mas quando dá ruim pra eles, aí sim, eles lembram do novo testamento e o usam em modo de defesa.

Mas hipocrisia safada não é o foco desse post, o volume dois do “mangá que não é mangá” é que é e pra ele eu dou …

NOTA: 5,0 (sim, igual o volume 1 só que por méritos diferentes)